A rainha de bateria da Estação Primeira de Mangueira, Evelyn Bastos, criticou com firmeza e elegância a presença de pessoas em postos de destaque em escolas de samba que não têm relação com a comunidade e que pertencem a religiões que historicamente condenam a cultura afro-brasileira. A fala ocorreu em meio ao debate sobre a escolha da influenciadora Virginia Fonseca como nova rainha de bateria da Grande Rio.
“Que as Yabás segurem a nossa coroa, olha, eu tenho profundo respeito pelas questões de gênero, mas sempre deixei claro que gênero, raça e classe juntos me atravessam na essência. Eu não acho justo que pessoas que saiam da lâmpada do Aladim se estendam cargos de destaque na terra das herdeiras da ginga de Ciata, sabe? Principalmente algumas que vêm de religiões que demonizam as nossas tradições, e tentam minar nossa existência enquanto cultura popular afro-brasileira”, disse Evelyn.
A declaração repercutiu em uma semana marcada por fortes críticas à coroação de Virginia Fonseca na Grande Rio. A influenciadora, que é evangélica, foi apontada por internautas como alguém sem vínculos com a comunidade da escola de Duque de Caxias e sem relação com o samba. A escolha também gerou rumores de que a vaga estaria associada a aportes financeiros da marca WePink, empresa fundada por Virginia, o que teria pesado na decisão da diretoria.
No discurso, Evelyn reforçou que a festa pertence às raízes negras do samba e destacou a importância da preservação cultural. “Quem faz a festa no quintal de casa é a dona do chão. Mas todas, com certeza, são bem-vindas para festejar com a gente. Mas como boas visitas”, afirmou, em referência às tradições das comunidades que sustentam as escolas de samba.
A repercussão ganhou ainda mais força após manifestações de artistas. A atriz Carol Castro se posicionou nas redes sociais contra a escolha da influenciadora para o posto na Grande Rio. “Esse espaço deveria ser ocupado por alguém da comunidade. Hipocrisia absurda”, escreveu.
O episódio reacendeu o debate sobre quem deve ocupar espaços de protagonismo no carnaval, uma festa de origem negra e popular, e sobre a influência do poder econômico em decisões que envolvem símbolos da cultura afro-brasileira.










