Durante o Festival Saúva, um evento preparatório da COP 30, em Belém (PA), o representante da MALUNGU, organização do Movimento de Quilombos do Pará , Hilário Moraes, destacou os desafios enfrentados pelas comunidades quilombolas diante do avanço da privatização de recursos naturais na Amazônia.
Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, ele relacionou a luta contra o chamado racismo ambiental à defesa dos direitos territoriais e à necessidade de garantir um futuro digno para as próximas gerações. Moraes também questionou o sentido de justiça climática defendido em espaços como a COP 30, apontando contradições entre discurso e prática.
“Olhando a COP, de que justiça climática estamos falando se o governo não respeita minimamente consultar seus povos e sai privatizando o bem mais precioso, que é a Amazônia e os povos que vivem nela?”, indagou.

Segundo Moraes, o momento exige o fortalecimento da resistência das comunidades tradicionais contra medidas governamentais que desconsideram direitos fundamentais. “O que nós queremos daqui pra frente é fortalecer a luta do povo quilombola contra esse racismo ambiental e garantir um futuro em que nossos territórios estejam preservados, titulados e respeitados, para que filhos, netos e bisnetos possam usufruir desse legado”, afirmou.
Ele criticou duramente a ausência de diálogo em processos que afetam diretamente os povos tradicionais, citando como exemplo a privatização de rios e recursos hídricos. “Os governos vêm privatizando os rios, passando por cima dos territórios quilombolas, indígenas, ribeirinhos e pescadores, sem qualquer discussão e sem respeitar a Convenção 169 [da OIT], que prevê a consulta prévia, livre e informada. Isso é uma violação bruta de direitos humanos”, disse.
Para ele, enfrentar essas violações é central para que a transição climática não repita velhas formas de exclusão e para que os povos quilombolas possam construir alternativas sustentáveis em seus territórios.
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