Em meio a cerco militar, desnutrição faz 63 vítimas no Sudão em sete dias

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Guerra afeta vidas inocentes no Sudão, 63 pessoas, a maioria mulheres e crianças, morreram em apenas sete dias por causa da desnutrição em El-Fasher, capital de Darfur do Norte, no Sudão. A informação foi confirmada por um alto funcionário do Ministério da Saúde local à agência AFP, sob condição de anonimato.

O número se refere apenas às vítimas que conseguiram chegar a hospitais. Muitas famílias, por falta de transporte e devido à insegurança, enterram seus mortos sem buscar atendimento médico.

A cidade está sitiada pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) desde maio do ano passado, no contexto do conflito contra o Exército sudanês iniciado em abril de 2023. El-Fasher é o último grande centro urbano de Darfur sob controle das forças governamentais e tem sofrido novos ataques desde que a RSF deixou a capital Cartum, no início de 2024.

Em abril, um ataque da RSF ao campo de deslocados de Zamzam levou dezenas de milhares de pessoas a se refugiarem em El-Fasher. As cozinhas comunitárias, antes essenciais, foram fechadas ou reduziram drasticamente o fornecimento de refeições por falta de alimentos. Em alguns casos, famílias sobrevivem de restos de comida ou até ração para animais.

63 pessoas, a maioria mulheres e crianças, morreram em apenas sete dias por causa da desnutrição em El-Fasher, Sudão – Foto: Marcello Casal/Agência Brasil.

No maior refeitório comunitário da cidade, cerca de 1.700 pessoas recebem diariamente aseeda, prato típico feito com farinha de milheto ou sorgo. No entanto, as porções diminuíram consideravelmente. “Há seis meses servíamos duas refeições por dia, agora apenas uma. Um prato que antes era dividido por três pessoas hoje é consumido por sete”, relatou Magdi Youssef, coordenador do espaço. Crianças e mulheres chegam ao local com sinais claros de desnutrição, como barrigas inchadas e olhos fundos.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), 40% das crianças com menos de cinco anos em El-Fasher apresentam desnutrição aguda e, dessas, 11% estão em situação grave. A fome foi oficialmente declarada nos campos de deslocados ao redor da cidade há um ano, com previsão de atingir a área urbana até maio deste ano, mas a ausência de dados impediu confirmação oficial.

Um pediatra do hospital local afirmou que aumentou o número de crianças em estado crítico. “A maioria chega com desnutrição grave e os estoques de medicamentos estão perigosamente baixos”, disse. Já um líder comunitário do campo de Abu Shouk relatou ter enterrado cinco crianças recentemente e estimou que entre cinco e sete morram diariamente.

A ONU calcula que cerca de um milhão de pessoas estejam presas em El-Fasher e arredores, isoladas de assistência e serviços básicos. O Programa Mundial de Alimentos alertou que milhares correm risco de morrer de fome. A situação piorou após o ataque a um comboio humanitário em junho, que matou cinco trabalhadores de ajuda.

Com a chegada da temporada de chuvas, cujo auge ocorre em agosto, as estradas ficam ainda mais precárias, dificultando ainda mais o envio de suprimentos.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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