Segundo apuração da Agência Brasil, denúncias de violência obstétrica no Hospital Materno-Infantil de Marabá, no sudeste do Pará, revelam mortes de mulheres e bebês após atendimentos marcados por omissões, falhas médicas e relatos de racismo. Famílias apontam a falta de assistência segura e digna como fator que contribui para a elevada taxa de mortalidade materna na cidade, muito acima das médias estadual e nacional.
Em um dos casos mais recentes, a adolescente indígena Yapê Rê Anambé Guajajara, de 17 anos, morreu cinco dias após o parto. Segundo os relatos, a jovem teve convulsões e complicações durante o atendimento na unidade. O caso reforça uma série de denúncias que envolvem ausência de cuidados básicos, indução forçada de parto, procedimentos inadequados e falhas generalizadas no acompanhamento médico.
Relatos de pacientes e familiares descrevem partos realizados no chão, agressões verbais, bebês com fraturas e a realização de raspagens uterinas, procedimento conhecido como curetagem, indicado em situações específicas como abortos incompletos ou hemorragias graves. Quando feito de forma incorreta ou sem as devidas precauções, esse tipo de intervenção pode causar perfurações, infecções e outras complicações. Há ainda denúncias de mulheres negras e indígenas sobre a recusa de acompanhantes e episódios de discriminação racial durante os procedimentos médicos.

Os dados oficiais corroboram a gravidade do cenário. De acordo com informações do Governo Federal, entre 2014 e 2024, Marabá registrou 49 mortes maternas por causas diretas. Só no ano de 2024, a taxa de mortalidade chegou a 80,6 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, número cerca de 140% superior à média nacional.
Famílias relatam ainda obstáculos para conseguir investigar os casos e responsabilizar os envolvidos. A inexistência de um Serviço de Verificação de Óbitos na cidade dificulta a apuração das causas das mortes. Além disso, segundo os relatos, mulheres e acompanhantes enfrentam barreiras institucionais para denunciar situações de violência obstétrica e de possível racismo institucional. O Ministério Público do Estado do Pará e o Ministério Público Federal já abriram investigações para apurar tanto os óbitos quanto o padrão de atendimento prestado no hospital.
A Prefeitura de Marabá, por meio de nota, reconheceu a gravidade das denúncias e informou que tem adotado medidas de prevenção, como a criação de cartilhas informativas e a implementação de novos protocolos internos. No entanto, familiares das vítimas e organizações sociais afirmam que as ações adotadas até o momento ainda não garantem um acolhimento digno e seguro, sobretudo para mulheres negras e indígenas, que continuam sendo as mais afetadas por esse tipo de violência.
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