Animais microscópicos conhecidos como zooplâncton têm desempenhado um papel fundamental na contenção do aquecimento global. Apesar de pouco valorizados e muitas vezes lembrados apenas como alimento para peixes de aquário, essas criaturas realizam uma migração anual no Oceano Antártico que ajuda a reter grandes quantidades de carbono.
Durante a primavera, esses organismos consomem intensamente o fitoplâncton da superfície oceânica, transformando-o em gordura. Em seguida, mergulham para profundidades entre 500 metros e 2 quilômetros, onde passam o inverno queimando essa gordura. Esse processo, chamado de “bomba de migração vertical sazonal”, impede que o carbono retorne rapidamente à atmosfera.

Segundo os pesquisadores, cerca de 65 milhões de toneladas de carbono são levadas anualmente às profundezas do oceano, o que equivale às emissões de aproximadamente 55 milhões de veículos a diesel, de acordo com cálculo da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA).
A pesquisa foi liderada por Guang Yang, da Academia Chinesa de Ciências, e publicada na revista Limnology and Oceanography. Segundo Yang, os resultados são “extraordinários” e indicam que o papel do Oceano Antártico no armazenamento de carbono pode ter sido subestimado. Jennifer Freer, do British Antarctic Survey, coautora do estudo, afirmou que esses animais são “heróis anônimos” por sua importância ecológica.
Entre os tipos de zooplâncton estudados, os copépodes são os principais responsáveis pelo transporte de carbono, seguidos pelo krill e pelas salpas. O professor Daniel Mayor, da Universidade de Exeter, explicou que a gordura acumulada nesses animais é queima lenta de carbono, e que, por estar em grandes profundidades, o CO₂ pode levar séculos para retornar à superfície.
Entretanto, esses organismos enfrentam ameaças crescentes. A elevação da temperatura dos oceanos, mudanças na estrutura das águas e a pesca industrial de krill são fatores preocupantes. De acordo com o professor Angus Atkinson, do Laboratório Marinho de Plymouth, essas pressões podem reduzir as populações de zooplâncton e comprometer sua função de armazenamento de carbono.
Os cientistas defendem que esses novos dados sejam incorporados aos modelos climáticos globais, pois, sem esse mecanismo natural, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera poderiam ser duas vezes maiores.
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