Mulheres engravidadas por agentes da ONU denunciam abandono e exploração sexual na República Democrática do Congo

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As mulheres engravidadas e depois abandonadas por agentes da ONU: 'Sumiu sem dizer nada' - Foto BBC

Mulheres na República Democrática do Congo denunciam que foram engravidadas por agentes da Missão de Estabilização da ONU no país (Monusco) e abandonadas após os partos. Em diversos casos, os soldados e policiais desapareceram sem deixar contato, mesmo após prometerem assistência. As informações foram reveladas em uma investigação da BBC.

Um dos relatos é de Kamate Bibiche, que afirmou ter se envolvido por três meses com um suposto agente russo. Ela contou que o homem sabia da gravidez e garantiu que cuidaria dela e do filho, mas desapareceu. Kamate guarda apenas uma caixa com objetos pessoais do militar e uma fotografia antiga. A mãe diz que a criança, hoje com 12 anos, enfrenta provocações por causa da pele clara e cabelo cacheado. “Ele sabia que eu estava grávida e sumiu como se não significássemos nada”, disse à BBC.

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As mulheres engravidadas e depois abandonadas por agentes da ONU: ‘Sumiu sem dizer nada’ – Foto: BBC

Outro caso citado na reportagem é o de Maria Masika, que tinha 17 anos quando iniciou um relacionamento com um integrante sul-africano da missão. Ela afirmou que o militar alugou uma casa próxima à base e a visitava nos dias de folga, mas cortou contato após o nascimento da filha. Sem apoio, Maria relatou que sobrevive atualmente com trabalho sexual para sustentar a criança. “Ele sabia que eu era menor de idade”, declarou.

Segundo a BBC, mesmo quando há aparente consentimento, a ONU considera esses relacionamentos como exploração sexual, por envolverem desequilíbrio de poder entre agentes armados e populações vulneráveis. Em 2005, a organização reforçou diretrizes para proibir tais condutas e responsabilizar os países de origem dos soldados.

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Um relatório divulgado pelas Nações Unidas aponta que, em 2023, foram registradas cem denúncias de abuso e exploração sexual em missões de paz, sendo 66 relacionadas à Monusco. Entidades locais afirmam que muitas mulheres afetadas enfrentam estigma social e pobreza extrema. Algumas recorrem à prostituição para sobreviver, enquanto outras abandonam os filhos em abrigos. Centros de acolhimento relatam que pelo menos cinco crianças foram deixadas por mães após casos de abandono.

Apesar das regras internacionais, especialistas ouvidos pela BBC afirmam que a falta de autoridade direta da ONU para processar os agressores e a baixa cooperação dos Estados dificultam a punição. Organizações pedem maior rigor e apoio às vítimas, que em muitos casos desconhecem os programas de assistência existentes.

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