O racismo ainda é um obstáculo marcante para mulheres negras que empreendem no Brasil. De acordo com a pesquisa “Empreendedoras Negras”, realizada pelo IRME em parceria com a Rede Mulher Empreendedora (RME), 71,2% das empreendedoras pretas acreditam que o racismo se manifesta de forma mais cruel contra mulheres de pele escura, percepção compartilhada por 60,8% das mulheres pardas. O levantamento traz um retrato contundente da realidade enfrentada por quem transforma o empreendedorismo em caminho de sobrevivência diante da exclusão do mercado formal.
A pesquisa ouviu 715 empreendedoras negras em todas as regiões do país e revelou que os desafios vão além da gestão do negócio. A falta de acesso a crédito, o racismo e a sobrecarga com responsabilidades domésticas são os maiores entraves apontados. Para muitas, abrir um negócio não foi uma escolha, mas a única alternativa para gerar renda, mesmo com altos índices de escolaridade: 62,9% das pretas e 52,5% das pardas possuem ensino superior.

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Outro dado relevante é a realidade econômica dessas mulheres: 47,6% faturam até R$ 2 mil por mês e a maioria (64,9%) trabalha sozinha. A pesquisa também aponta que 73% das empreendedoras são mães, sendo que 50,2% das pretas e 46,9% das pardas criam os filhos sozinhas. Os setores mais comuns são alimentação, beleza e consultoria, áreas que exigem criatividade, mas contam com pouco suporte para expansão.
A discriminação racial segue presente: 70,7% das mulheres pretas já sofreram racismo no ambiente de trabalho, frente a 52,8% das pardas. Essa desigualdade impacta diretamente na autoestima e nas oportunidades de crescimento. “A autonomia econômico-financeira é fundamental para as mulheres em geral, mas é ainda mais importante para mulheres negras que são atravessadas violentamente pelo machismo e pelo racismo da nossa sociedade. Apoiar mulheres negras nesta jornada é o trabalho da RME e deveria ser de toda sociedade”, afirma Ana Fontes, fundadora da RME e do IRME.
A pesquisa mostra também as principais motivações para empreender: liberdade para fazer o que gostam (42,8%), independência financeira (31,5%) e flexibilidade de horário (28,7%). Para além da sobrevivência, o empreendedorismo surge como espaço de identidade e autonomia. Outro ponto importante é o papel da coletividade: 66,6% das entrevistadas reconhecem o apoio de organizações e redes como fundamental para impulsionar seus negócios.