Práticas antirracistas na infância começam no berço

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O racismo atravessa todas as fases da vida, inclusive os primeiros anos. Embora muitas vezes subestimado, esse impacto atinge bebês e crianças pequenas, afetando a formação de sua identidade, autoestima e vivência social. Promover a equidade racial desde a primeira infância é, portanto, uma urgência coletiva.

Essa é a proposta da educadora e doutora em Educação Jussara Santos, autora do livro Democratização do colo: Educação antirracista para e com bebês e crianças pequenas, publicado pela Papirus Editora. A obra reúne relatos e reflexões sobre como o racismo estrutura relações desde os primeiros anos de vida, e propõe caminhos concretos para uma educação que promova o respeito e a justiça desde o berço.

Considerar a existência do racismo nos espaços é o pontapé inicial para o fomento do antirracismo. A partir disso, formação continuada, empatia e compromisso tornam-se formas práticas de vivê-lo na educação infantil”, afirma a autora.

Foto: pexels

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Segundo Jussara, acolhimento, afeto, escuta atenta e cuidado com a linguagem são aspectos fundamentais para o desenvolvimento saudável de todas as crianças, especialmente as negras. Silenciar diante de atitudes racistas ou reproduzir estigmas, mesmo sem intenção, é também uma forma de perpetuar a exclusão.

Veja a seguir quatro práticas educativas recomendadas por especialistas que desejam transformar a infância em um território de inclusão e respeito:

1. Representatividade nos ambientes
Os espaços que acolhem crianças devem refletir a diversidade étnico-racial do Brasil. Isso inclui brinquedos, livros, cartazes e ilustrações que retratem crianças negras, indígenas e de diferentes origens. A presença de bonecas negras, personagens afro-brasileiros ou indígenas e histórias de outros povos amplia o sentimento de pertencimento.

2. Cuidado com a linguagem
Evitar eufemismos como “moreninho” e utilizar termos corretos como preto, pardo, indígena ou negro, quando se refere ao conjunto de pretos e pardos, é parte da construção de uma linguagem respeitosa. Brincadeiras com viés racista, ainda que sutis ou naturalizadas, devem ser desconstruídas.

3. Afeto e acolhimento sem estigmas
Todas as crianças devem receber o mesmo cuidado e atenção. Isso significa intervir quando há exclusão, escutar com paciência e jamais desumanizar comportamentos. Expressões como “essa criança é um bichinho” ou “já nasceu com gênio forte” são muitas vezes direcionadas com maior frequência a crianças negras e reforçam estereótipos negativos.

4. Diversidade de tons e histórias
Ensinar que “cor de pele” vai além do bege é essencial. Ter materiais escolares com múltiplas tonalidades de lápis, por exemplo, permite que as crianças se vejam representadas nas atividades. Histórias que valorizam a pluralidade de vivências e culturas também são ferramentas potentes de construção de identidade.

Promover uma educação antirracista na primeira infância é construir desde cedo uma geração mais empática, consciente e comprometida com a igualdade racial. Essa transformação começa nas pequenas atitudes diárias — nas palavras, nos olhares e no colo oferecido.

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