Educadores de diferentes regiões do Brasil intensificam greves por valorização profissional, melhores condições de trabalho e cumprimento de direitos. As paralisações em Salvador (BA), Distrito Federal e Rio de Janeiro refletem um cenário nacional de insatisfação no setor educacional, que tambem podem chegar em Minas Gerais.
Salvador: greve completa 30 dias
Na capital baiana, a greve dos professores da rede municipal, deflagrada pela APLB-Sindicato, completa 30 dias. A principal reivindicação da categoria é o pagamento integral do Piso Nacional do Magistério, atualmente fixado em R$ 4.867,77. O sindicato rejeitou a proposta de reajuste linear de 4% apresentada pela prefeitura.
A gestão municipal argumenta que a maioria dos professores já recebe acima do piso, considerando gratificações fixas. No entanto, um Projeto de Lei aprovado em meio a uma sessão tumultuada na Câmara Municipal prevê reajustes escalonados: de 9,25% para professores de Nível 1/Referência A e 4,83% para outros servidores. A APLB-Sindicato contesta a legalidade de somar gratificações ao salário-base para atingir o piso, prática vedada por decisão judicial desde 2011.
Enquanto o impasse se mantém, a categoria segue mobilizada com seminários, manifestações e atividades públicas programadas para os próximos dias.

Distrito Federal: início de greve e judicialização do movimento
No Distrito Federal, professores e orientadores educacionais entraram em greve por tempo indeterminado na última segundafeira (02). A paralisação tem provocado manifestações e a suspensão de aulas, afetando diretamente a rotina de milhares de estudantes e famílias.
Entre as principais demandas estão o reajuste salarial de 19,8% e a reestruturação do plano de carreira. O Governo do DF adotou uma postura de enfrentamento, com corte de ponto dos grevistas. A Justiça acatou pedido do Executivo local, declarou a greve abusiva e impôs multa diária de R$ 1 milhão ao Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), caso o movimento continue. Uma nova assembleia está prevista para os próximos dias, com o objetivo de avaliar os rumos da paralisação.
Rio de Janeiro: protesto por reajuste salarial
No Rio de Janeiro, a mobilização da rede estadual também ganhou força. Nesta quartafeira (04), professores e servidores, organizados pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ), realizaram uma assembleia seguida de passeata até o Palácio Guanabara, sede do governo estadual.
A principal reivindicação é um reajuste salarial de 53% para compensar perdas acumuladas. A categoria também pressiona por melhorias no plano de carreira e pela implementação efetiva do Piso Nacional. Deliberações anteriores apontam a possibilidade de paralisação geral quando o tema do piso entrar na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF).
Histórico de greves no Brasil
As atuais paralisações se inserem em um longo histórico de greves e mobilizações de professores no Brasil. Desde os anos 1980, educadores das redes federais, estaduais e municipais têm se organizado para exigir:
- Reajustes salariais e cumprimento do Piso Nacional do Magistério
- Reestruturação e valorização das carreiras
- Melhores condições de trabalho e infraestrutura escolar
- Preservação da qualidade do ensino público
- Recomposição dos quadros de profissionais via concursos públicos
Entre 2003 e 2022, os professores das redes estaduais e municipais brasileiras realizaram mais de 2.500 greves. Houve um acentuado aumento no número de greves desta categoria a partir de 2011, aumento protagonizado principalmente pelos professores de redes de ensino dos municípios pequenos e médios, especialmente no Nordeste.
Os dados também evidenciam significativas disparidades entre as redes de ensino em relação à frequência e duração das greves. A análise dos dados consolidados sobre greves de professores no Brasil, combinada com estudos acadêmicos e informações adicionais sobre o sindicalismo docente a Argentina, Brasil, México e Estados Unidos, permite tecer algumas considerações sobre as causas e características dos movimentos grevistas.
As greves em Salvador, Distrito Federal e Rio de Janeiro evidenciam desafios na valorização dos profissionais da educação e na garantia de condições adequadas de trabalho. Enquanto os impasses persistem, milhares de estudantes permanecem sem aulas, e a retomada das atividades depende do avanço nas negociações entre governos e sindicatos.
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