Na última semana, duas modelos russas foram acusadas de ‘blackfishing’ por utilizarem cabelos trançados e aparecerem bronzeadas em um anúncio da marca Ivy Park, usando roupas esportivas da linha da cantora Beyoncé, em parceria com a Adidas. Uma grande parte dos russos saiu em defesa das modelos, dizendo não entender o porquê da polêmica.
Em uma das publicações de Alena Buni, uma das mulheres que utilizam as tranças, seguidores defendem as modelos. “Eu deveria ter sido fotografada com um kokochnik [adereço de cabeça tradicional da cultura russa] e com rabo de cavalo? E se não tiver rabo de cavalo – isso também pertence a eles? Qual vai ser a próxima coisa? Vocês vão me proibir de ouvir hip-hop, usar jeans de cintura baixa e fazer bronzeamento artificial? Sim, isso mesmo – ser muito bronzeado também é um insulto para eles”, escreveu.
A Ivy Park replicou as fotos em seu perfil no Instagram e, após tomar conhecimento da polêmica, deletou as fotos das modelos, por perceberem que eram russas e não afro-americanas. Mesmo assim, a publicação desencadeou uma série de comentários negativos. Em um deles, um seguidor disse que a marca seria “cancelada”. “Senhores… Seja lá quem postou isso, pode ser DESPEDIDO. Vocês estão prestes a ser arrastadas pelos cabelos na internet. Isso é blackface e precisa ser removido”, afirmou.
Questionamentos
Depois das fotos publicadas, vários influencers questionaram se a Adidas e a própria Beyoncé tinham ciência que as modelos não eram afro-americanas. “A questão é: a Adidas sabia que essas mulheres não tinham ascendência negra?”, questiona a influencer norte americana Millennial Tea.
Mesmo com os questionamentos vindos de personalidades, principalmente norte americanos, os russos, em sua grande maioria, apresentou surpresa diante da polêmica, apoiando as modelos russas. Em alguns casos, justificaram, dizendo que “o racismo em relação a negros nunca existiu na Rússia ou na URSS como um problema sistêmico”, como escreveu um dos seguidores da modelo. Em outros casos, foram mais incisivos. “Não tentem enxergar racismo toda vez que uma pessoa bronzeada com cachos mostra seu rosto”, escreveu.
Em uma publicação no seu perfil do Instagram, a outra modelo fotografada, Anastassia, disse que se o ensaio for considerado ofensivo, não justificaria a marca [Adidas] colocá-la à venda na Rússia. “Então, como resultado [da polêmica], a maioria dos russos foi informada de que esta roupa não é para você! E que bronzeado e tranças são um insulto aos direitos dos negros. E tudo isso no século 21! Por que então vendê-lo na multiétnica Rússia?”, questiona.
O “blackfishing” é a tentativa de copiar o visual afro-americano com suas tranças, cachos e tons de pele mais escuros.