O governo do Mali acusou oficialmente a Ucrânia de apoiar grupos terroristas que operam na região do Sahel, no norte da África. Em uma coletiva de imprensa realizada em Moscou nesta semana, o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, declarou: “A Ucrânia é patrocinadora do terrorismo e deve ser detida”.
As acusações surgem em meio a uma crescente colaboração entre os países do Sahel — Mali, Burkina Faso e Níger — e a Rússia. Os chanceleres dessas nações africanas se reuniram com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, para discutir o fortalecimento dos laços militares e de segurança. Lavrov afirmou que Moscou está pronta para ajudar a expandir o potencial das forças armadas unificadas do Sahel, fornecendo equipamentos militares e treinamento.

O contexto histórico dessas alegações remonta a eventos de 2024, quando rebeldes no norte do Mali, parte do Quadro Estratégico Permanente (CSP), começaram a utilizar drones fornecidos pela Ucrânia para atacar bases do exército malinês e mercenários russos do grupo Wagner. Essa cooperação resultou em ataques significativos, incluindo a Batalha de Tinzaouaten, onde dezenas de soldados malineses e combatentes do Wagner foram mortos.
Em resposta a esses acontecimentos, o Mali cortou relações diplomáticas com a Ucrânia em agosto de 2024, acusando Kiev de envolvimento direto nos ataques. Além disso, Mali, Burkina Faso e Níger formaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES) em setembro de 2023, uma confederação destinada a fortalecer a cooperação militar e política entre os países membros.
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A instabilidade na região do Sahel tem sido exacerbada por uma insurgência islâmica em curso desde 2012, resultando em milhares de mortes e deslocamentos em massa. A presença de grupos extremistas, como o Estado Islâmico no Grande Saara (ISGS) e a aliança Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), continua a representar uma ameaça significativa para a segurança regional.
Essas acusações contra a Ucrânia ocorrem em um momento de realinhamento geopolítico na África Ocidental, com países do Sahel buscando novas parcerias após afastarem forças ocidentais, como as francesas, e se aproximarem de aliados como a Rússia. A situação ressalta a complexidade das dinâmicas de segurança na região e a crescente influência de atores externos nos assuntos africanos.