A Acadêmicos do Salgueiro está se preparando para levar à Sapucaí, nesta segunda-feira (03), um enredo que mergulha nas raízes da fé e da religiosidade brasileira, com o conceito de “fechamento de corpo”. Em entrevista ao Notícia Preta, Léo Antan, membro da equipe de criação do carnavalesco Jorge Silveira, apontou o que será apresentado pela escola, na Sapucaí.
“O enredo do Salgueiro passeia por todas as crendices mágico-religiosas da cultura popular brasileira, desde as sabedorias indígenas até as sabedorias afro-brasileiras, algumas sabedorias católicas, as umbandas, os candomblés, e chega até mesmo no cangaço brasileiro, que é um episódio importante de uma religiosidade popular muito influenciada pelo catolicismo, mas que também recebeu influências indígenas e africanas“, explica.

Assim, de acordo com Léo, o desfile promete explorar o conceito de “fechamento de corpo”, que segundo ele é um ritual de proteção trazido ao Brasil pelos escravizados islamizados, e que se tornou um símbolo da luta e da reexistência dos povos negros e indígenas diante da colonização e da escravidão.
O enredo, desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira em parceria com sua equipe de criação — composta por Ricardo Ressis, Alão Barbosa e o enredista Igor Ricardo —, parte de uma proposta da diretoria da escola para abordar as “macumbarias brasileiras” e as religiões de matriz africana.
Segundo Léo, a ideia central gira em torno das bolsas de mandinga, amuletos utilizados pelos povos Mandingas, originários do norte da África, que traziam passagens do Alcorão e serviam como proteção espiritual. Essas bolsas deram origem a outros objetos de fé, como o patuá, e influenciaram rituais de diversas tradições religiosas no Brasil.
Um enredo que resgata e ressignifica
Léo Antan, membro da equipe de criação, explica que o enredo da agremiação busca resgatar e ressignificar palavras como “macumba”, “mandinga” e “feitiço”, que foram distorcidas pelo racismo estrutural e pela imposição da fé católica durante o processo de colonização. “Somos sim macumbeiros, somos sim mandingueiros“, afirma Antan, destacando a importância de trazer essas expressões para o centro do debate de maneira afirmativa e potente. O enredo é, portanto, uma resposta à demonização das religiões de matriz afro-brasileiras e um chamado para celebrar a diversidade da fé brasileira.
O desfile passeia por diversas tradições mágico-religiosas, desde as sabedorias indígenas e afro-brasileiras até influências católicas e do cangaço. Cada setor do enredo terá uma estética única, representando diferentes expressões da fé popular, como a Bahia, o cangaço, o candomblé e as tradições indígenas. A pluralidade é a marca do desfile, que promete surpreender com uma visualidade rica e diversa, pensada por Jorge Silveira para destacar a beleza e a força dessas tradições.
Inovações e efeitos visuais
O Salgueiro promete inovar também na parte técnica e visual do desfile. A escola vai aproveitar ao máximo a nova iluminação da Sapucaí, com carros alegóricos especialmente projetados para criar efeitos impactantes. Um dos carros, por exemplo, será todo pintado para interagir com a luz, prometendo um espetáculo visual inédito. Além disso, a comissão de frente, coreografada por Paulo Pina, promete ser um momento de grande impacto, com uma proposta que nunca foi vista antes no Carnaval.
“Estamos sempre na corda bamba entre tradição e modernidade“, explica Léo Antan. “O enredo fala de um tema tradicional e relevante para o Salgueiro, mas com inovações que vão surpreender o público“.
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