A escola de samba Viradouro prepara um desfile emocionante e repleto de significado para o Carnaval 2025, ao levar para a avenida neste dominfo (02) o enredo que homenageia Malunguinho, líder quilombola e figura central da cultura da Jurema sagrada em Pernambuco. Em entrevista ao Notícia Preta, o carnavalesco Tarcísio Zanon explica sua visão sobre o carnaval da escola, este ano: “A palavra que define o enredo é reparação“.
A agremiação promete uma apresentação visualmente impactante, que une elementos orgânicos da natureza, como folhas, raízes e sementes, ao tradicional brilho do carnaval, criando a atmosfera de uma mata mística e cheia de segredos.

Segundo o carnavalesco, a Viradouro busca transpor para a avenida a ciência dos encantados e a luta de João Batista, nome de batismo de Malunguinho, por reparação histórica. Zanon, que se define como um artista sem preconceitos com materiais, utilizou uma linguagem artística que mistura o orgânico ao esplendor carnavalesco, com transparências e outros elementos que revelam o lado oculto da mata e a resistência cultural dos povos tradicionais.
Pesquisa profunda e colaboração com lideranças religiosas
A construção do enredo contou com uma extensa pesquisa, que incluiu três viagens de Tarcísio Zanon a Pernambuco. Lá, o carnavalesco teve a oportunidade de dialogar com lideranças religiosas que cultuam Malunguinho e visitar casas de Jurema em Recife, Olinda e municípios vizinhos. A orientação do professor e juremeiro João Monteiro foi fundamental para garantir a autenticidade e o respeito à tradição.
Além disso, a pesquisa bibliográfica incluiu consultas à Biblioteca Pública de Pernambuco e aos estudos do professor Marcus Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Carvalho foi responsável por descobrir o registro de morte de Malunguinho, datado de 18 de setembro de 1835, um marco importante para a reconstrução da história desse líder quilombola.
“O público pode esperar um desfile de cores intensas e um estudo minucioso de luz, que promete transportar os espectadores para o universo místico da Jurema“, diz o carnavalesco. A Viradouro segue a proposta de revelar um Brasil pouco conhecido, que vive à margem dos grandes centros urbanos e é frequentemente silenciado por práticas racistas.
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