Luciana Novaes, gerente de Marca e Posicionamento da Fundação Lemann, carrega em sua trajetória a essência da resistência e da transformação social. Mulher negra, nascida e criada em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, ela simboliza o poder da educação e da comunicação como ferramentas de mobilização e inclusão. Sua história é um retrato da luta por equidade racial em um país onde as desigualdades estruturais ainda impõem barreiras significativas.
A formação acadêmica de Luciana começou em escolas públicas: “Eu sabia que estudar seria o meu passaporte para um futuro diferente. Mesmo com todos os desafios, meus pais sempre reforçaram que a educação era o caminho“, relembra Luciana. Seus pais acreditavam no poder transformador do ensino e a incentivaram a estudar na tradicional Escola Caetano de Campos, localizada no coração de São Paulo. Mesmo com recursos financeiros limitados, Luciana não abriu mão de investir em sua educação, conquistando bolsas de estudo que ampliaram seus horizontes e alimentaram seus sonhos.
Ingressar na faculdade não foi um caminho natural, mas sim um desafio vencido com determinação. “Eu olhava para os corredores da faculdade e não via muitas pessoas que se parecessem comigo. Isso me desafiava, mas também me motivava a continuar“, conta. Inspirada por sua mãe, a primeira da família a obter um diploma universitário, Luciana equilibrou trabalho e estudos para cursar Comunicação Social na Faculdade Belas Artes. Em 2004, ela era uma das duas alunas negras em seu turno, um dado que evidencia a sub-representação racial nos espaços acadêmicos. Esse cenário não a desencorajou; pelo contrário, reforçou sua motivação para ocupar e transformar esses espaços.
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Quebrando barreiras, construindo pontes
Mulheres negras enfrentam desafios singulares no mercado de trabalho, e Luciana não foi exceção. “Muitas vezes, precisei provar que eu era capaz antes mesmo de ter a chance de mostrar meu trabalho. O racismo está lá, mas minha resposta sempre foi através da excelência“, destaca. Preconceitos implícitos e explícitos, falta de oportunidades e a ausência de mentores que compreendam suas trajetórias são barreiras recorrentes. No entanto, sua jornada é um exemplo de resiliência. Cada obstáculo se transformou em um estímulo para seguir adiante e inspirar outras mulheres negras a acreditarem em seu potencial.
Atualmente, na Fundação Lemann, Luciana utiliza sua posição para impulsionar iniciativas de inclusão e equidade racial. “Não basta estar em um cargo de liderança; é preciso abrir portas para quem vem depois. Meu trabalho é garantir que outras pessoas negras também possam chegar lá“, afirma. Ela lidera estratégias de comunicação que visam ampliar a representatividade na liderança, desenvolvendo pessoas negras, mulheres, indígenas e quilombolas para cargos de destaque. A campanha pela Declaração de Dados Raciais nas Escolas é um exemplo do impacto de seu trabalho, mostrando como a coleta de dados é fundamental para a formulação de políticas públicas antirracistas.
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Comunicação Como Ferramenta de Mudança
Para Luciana, a comunicação vai além de transmitir mensagens; é uma ferramenta poderosa de conexão, impacto e transformação. “A comunicação tem o poder de humanizar histórias, de conectar realidades distintas e de inspirar mudanças concretas. É através dela que conseguimos transformar narrativas“, reflete. Ela acredita que a presença de mulheres e pessoas negras em cargos de decisão é crucial para reduzir desigualdades. O trabalho da Fundação Lemann, sob sua gestão, reflete esse compromisso, com projetos que vão desde a formação de lideranças negras até a implementação de práticas pedagógicas antirracistas.
Estudos apontam que equipes diversas são mais inovadoras e eficientes na resolução de problemas complexos. Dados do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, por exemplo, mostram que lideranças negras propõem três vezes mais políticas públicas inclusivas. Esses números reforçam o que Luciana sempre soube: “Diversidade não é apenas uma questão de justiça social, é uma estratégia de inovação e eficiência“.
Inspirando Futuros, Transformando Presentes
A história de Luciana Novaes é um lembrete poderoso de que a educação e a comunicação são chaves para a transformação social. Sua trajetória inspira não apenas por suas conquistas individuais, mas pelo impacto coletivo que promove. “O que me move é saber que minha presença abre caminhos para outras pessoas. Eu quero que meninas negras possam olhar para mim e pensar: ‘eu também posso chegar lá'”, conclui. Ao ocupar espaços de poder e influência, ela abre caminhos para que outras mulheres negras possam sonhar e, mais importante, realizar.