Os manuscritos de Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas da história do Brasil, foram declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco-América Latina. O reconhecimento é uma homenagem ao legado do poeta, jornalista e advogado do século 19, cuja atuação jurídica e literária foi decisiva na luta pela abolição da escravidão no país.
A Unesco realiza, desde 1992, a seleção de documentos considerados essenciais para a preservação da memória global. Em dezembro, a organização incluiu na lista um conjunto de registros assinados por Gama. Entre os documentos reconhecidos estão cartas de alforria e processos judiciais em que ele atuou em defesa de pessoas escravizadas, além de artigos publicados em jornais da época.
Um destaque do acervo é um caderno que registra a conquista da liberdade de 212 pessoas. Esses manuscritos estão preservados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, onde parte do material foi digitalizada e está disponível para consulta online. Os interessados também podem acessar o acervo presencialmente na sede do Arquivo, localizada na Rua Voluntários da Pátria, 596, em Santana.
LEIA TAMBÉM: Medalha Princesa Isabel é extinta e dá lugar a Prêmio Luiz Gama
Gama utilizava estratégias jurídicas inovadoras para libertar pessoas escravizadas, como provar que africanos escravizados haviam chegado ao Brasil após a proibição do tráfico de pessoas, tornando suas condições de cativeiro ilegais. Suas ações foram fundamentais para transformar a letra morta da legislação em instrumento de justiça.
Em reconhecimento à sua trajetória, Luiz Gama recebeu, em junho de 2021, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de São Paulo (USP), tornando-se o primeiro brasileiro negro a ser agraciado com essa honraria desde a criação da universidade. Antes dele, apenas Nelson Mandela havia recebido o título como representante da população negra, em 2000.
ENTRE EM NOSSO GRUPO DE WHATSAPP
Quem foi Luiz Gama?
Luiz Gama nasceu em Salvador, em 1830, filho de uma mulher negra liberta e de um descendente de portugueses. Aos 10 anos, foi vendido como escravo pelo próprio pai e enviado a São Paulo. Antes de completar 18 anos, conquistou sua liberdade e passou a frequentar, como ouvinte, as aulas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, hoje parte da USP, apesar de ser proibido de se matricular formalmente.
Ao longo de sua vida, Gama libertou gratuitamente cerca de 500 pessoas escravizadas em diversas regiões do Brasil. Ele também se destacou como poeta e escritor, publicando, em 1859, seu único livro, Primeiras Trovas Burlescas, apenas 12 anos após aprender a ler. Ademais, foi colunista de vários jornais em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde defendia ideias progressistas e denunciava as injustiças sociais.
O reconhecimento de seus documentos como Patrimônio da Humanidade reforça a importância de Luiz Gama na história do Brasil e na luta pelos direitos humanos, preservando sua memória para as gerações futuras.