Jorge Lafond, um ícone da televisão brasileira, foi muito mais que um ator e humorista: foi uma figura de resistência na sociedade, que usou sua arte para desafiar preconceitos e abrir caminhos para a diversidade no entretenimento, em uma época em que ser negro, gay e afeminado era um convite ao desligamento social e profissional.
Jorge nasceu em Nilópolis, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Antes de se tornar famoso, trabalhou como cabeleireiro e, se encontrou como drag queen. Formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), ele se dedicou ao balé clássico e à dança africana. Durante mais de uma década, atuou como dançarino, realizando apresentações nos Estados Unidos e na Europa. Seu talento o levou a integrar o corpo de balé do Fantástico, da TV Globo, em 1974.
O grande destaque de sua carreira veio com a inesquecível personagem Vera Verão no programa ‘A Praça é Nossa‘ . Com suas roupas vibrantes, postura desafiadora e frases icônicas como “Êpa! Épa! Êpa!”, Vera Verão conquistou uma geração ao trazer à tona discussões sobre gênero, sexualidade e estereótipos. Jorge Lafond fazia rir, mas também pensar.
Apesar do sucesso, Lafond não foi poupado das dificuldades impostas a uma sociedade que marginaliza corpos e identidades fora do padrão. Ele descreveu a discriminação nos bastidores da TV, comentários depreciativos e a constante desvalorização de seu trabalho.
Ainda assim, sua resiliência tornou-se um exemplo para artistas LGBTQIA+ e negros que vieram depois dele. Lafond demonstrou que a arte pode ser uma ferramenta de resistência, mesmo em ambientes hostis.
Carnaval
Lafond fez história ao desfilar em diversas escolas de samba. Meses antes de sua morte, o artista desfilou como Rainha de Bateria da escola Unidos de São Lucas, em São Paulo. Mas essa não foi a primeira vez que o artista marcou presença no Carnaval. Em 1990, ele causou ao desfilar apenas de tapa-sexo em um carro alegórico da Beija-Flor, que tinha como enredo “Todo Mundo Nasceu Nu”.
Legado
Jorge Lafond não foi apenas um humorista; ele foi um revolucionário. Sua história e seu legado é celebrado até hoje. Negro e assumidamente gay em uma época marcada por um conservadorismo ainda mais forte na sociedade, Jorge Lafond enfrentou o preconceito e inúmeros desafios para alcançar o sucesso. Hoje, Lafond é reconhecido como um nome importante da luta antirracista e LGBTfóbica.
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