A história de Jordana Araújo, nova integrante do time de comentaristas da Globo, que estreia no Sportv nesta sexta-feira (08), às 18h30, na transmissão de Ferroviária x Santos, é daquelas em que o futebol serviu de momento para unir a família. Hoje com 30 anos, ela é a caçula de cinco irmãos – um homem e quatro mulheres -, e vai comentar o jogo que acontece pela terceira e última rodada da fase de grupos da Ladies Cup.
A mãe, Vera, e o pai, Francisco, aceleravam o jantar nas noites de quarta-feira e o almoço nas tardes de domingo para que todos se pudessem ver uma partida na televisão. Jordana cresceu na periferia de Osasco e muitas vezes ouviu que não conseguiria realizar o sonho de ser jornalista por conta do lugar de onde veio. Não deu ouvidos.
Foi babá, recepcionista, arquivista, e chegou também a trabalhar na Ceagesp – um varejão de frutas, legumes e verduras em São Paulo – antes de entrar pela primeira vez em uma faculdade de jornalismo. Precisou trancar o curso no terceiro período, em 2015, quando engravidou de Pietro – hoje o filho já tem oito anos.
Retomou os estudos em 2019, começou a comentar partidas do Paulistão Feminino convidada pela Federação Paulista de Futebol, em um projeto que envolvia só mulheres na transmissão. Depois de estagiar na rádio da empresa, foi contratada pela Band, onde ficou até o fim de outubro, até acertar com a Globo.
“Eu sempre fui muito de falar de futebol e dessa paixão pelo jornalismo. Escutava das pessoas que eu não iria conseguir por ser da periferia de Osasco, por ser uma mulher preta. Eu sou de 1993 e minha infância passa ali pelo início dos anos 2000. Naquela época a gente tinha pouquíssimas mulheres como referência no jornalismo esportivo. Isso servia para reforçar ainda mais esses tipos de comentários. Ouvi muito frases como: ‘Esse espaço não foi feito para mulher’; ‘Futebol é coisa de homem’“, conta ela, que contonius:
“Minha mãe sofria muita represália também por conta disso, por apoiar esse meu sonho. As pessoas usavam muito disso para tentar me desencorajar, mas em nenhum momento eu deixei de acreditar”, ressalta Jordana Araújo. “Quando eu fui contratada pela Globo, nossa família chorou bastante. Foi um ano muito delicado para o meu pai, que tratou um câncer. Ele foi uma das poucas pessoas para quem eu contei quando estava em período de negociação”.
Curiosamente, nesta sexta-feira, Jordana Araújo participará da transmissão de um confronto entre times paulistas femininos, onde ensaiou seus primeiros comentários. Desta vez ela estará acompanhada do narrador Henrique Guidi na cobertura do jogo que pode assegurar a vaga das Sereias da Vila na decisão do torneio que fecha o calendário de 2023 da modalidade – a equipe de Araraquara já está eliminada.
“Eu venho do futebol feminino e ver as mulheres ganhando cada vez mais espaço nas transmissões ao mesmo tempo em que a modalidade vai se desenvolvendo é muito legal. A Ladies Cup é um campeonato muito interessante, pois nele já dá para perceber também as ideias e projetos dos clubes para o ano que vem”, pontua a comentarista, que continua:
“É muito importante cada vez mais ter espaço na mídia, permitir mais acesso aos torcedores. Este ano foi especial, pois tivemos a Copa do Mundo, que colocou o futebol feminino em mais evidência ainda. Foi o ano da consolidação, da realidade. Ainda tem o hiato para o masculino, que precisa ser diminuído, mas estamos no caminho. Isso é o que realmente importa. A gente entrou numa estrada e não dá mais para voltar”, alerta a comentarista, que também participará das transmissões dos jogos masculinos no sportv.
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