“Experiência forte”, diz jornalista Alexandre Henderson sobre o programa ‘Vim de lá’

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Vim de lá - Alexandre Henderson

Neste sábado (25), logo após o ‘Jornal Hoje’, a TV Globo exibe para o Rio de Janeiro o programa ‘Vim de Lá’. Apresentado pelo repórter Alexandre Henderson, o programa especial em comemoração ao mês da Consciência Negra faz uma viagem para Angola e mostra as semelhanças entre Rio e Luanda nos ritmos, na gastronomia e nos costumes.

Ao realizar o sonho de ir à África, Alexandre Henderson contou com exclusividade ao Notícia Preta, como foi conhecer o continente africano pela primeira vez. “Pisar em Angola foi mágico. Experiência forte, de muita reflexão em relação ao passado histórico que nos une. O povo banto foi predominante na diáspora africana no Rio, logo, a probabilidade de um homem ou mulher negra, carioca, descender desse povo é enorme“, conta o jornalista.

Henderson também conta o impacto que essa viagem causou nele. “Quando você vai à África e vê de perto como foi a história cruel de uma imigração forçada para as Américas, que impactou gerações subsequentes, não dá para voltar mais o mesmo. Tudo é muito forte. Foi linda a viagem e emocionalmente muito impactante“.

‘Vim de lá’ é apresentado pelo jornalista Alexandre Henderson, neste sábado (25), na TV Globo /Foto: Léo Rosário – Globo

O repórter, que embarcou na missão de mostrar as diferenças e semelhanças entre o povo africano e o brasileiro, destaca algumas delas. “O Rio tem um quê de Angola. A história nos une, a cultura musical… O samba, por exemplo, tem influência banto. A religiosidade de matriz africana é outro laço que nos conecta, além da comida, dos costumes… Nosso angu tem um equivalente angolano, que é o funge. O Kuduro nasceu nas periferias e nas favelas angolanas, assim como o funk“.

Outro momento do programa, é a a rota feita pelas pessoas negras que foram escravizadas, pela região da ‘Pequena África’, na zona portuária do Rio e também em uma praça em que essas pessoas eram expostas, em Angola. Segundo ele, levar isso para o público, é importante para que a história seja lembrada, para não ser repetida.

Para que as pessoas entendam que os nossos ancestrais sofreram muito, mas também lutaram demais pra resistir face a tanta maldade. A diáspora africana foi um crime contra a humanidade. Séculos de perversidade, desagregação, assassinatos, violência sexual, agressão física, tortura mental, destruição de sonhos, derramamento de lágrimas, roubos e de muita dor. É preciso cada vez mais que a história saia debaixo do tapete“.

Por conta de anos de violência, Alexandre acredita que exista “uma dívida colossal para com o povo preto que precisa de reparação“, e por isso, as consequências ainda são sentidas.

Se hoje o negro no Brasil ainda vive em condições mais precárias, alijados de direitos e acessos básicos, a escravidão tem sua parcela gigante de culpa. A história, sendo contada tal como ela foi, além do letramento, são fundamentais. Não dá mais para parcela da nossa sociedade minimizar ou fechar os olhos para todas as atrocidades do passado e suas consequências na vida de milhões de pessoas“, pontua o jornalista.

Alexandre Henderson com o gui a de turismo Carlos Bumba, em Angola /Foto: Divulgação Globo

O jornalista, que durante a jornada viu a beleza de um povo e também o impacto das tragédias que enfrentaram, conta como foi para ele, pessoalmente, passar por essa experiência. “Pisar no chão que já foi de sangue e de lágrimas é mais impactante ainda. Saber que um dos meus passou por tanto sofrimento mexeu comigo. Quando pisei em Massangano, Angola, a emoção foi grande. Lá foi um dos pontos de saída dos negros que embarcavam no Rio Kuanza e, de lá, atravessavam o Atlântico“.

Apesar de tanta dor, Alexandre conta que é necessária continuar firme, por esses que vieram antes. “Um horror que mexe muito, que provoca revolta, mas também dá força, coragem e fé para seguir em frente. Se existimos é porque os nossos antepassados lutaram e a batalha não foi em vão“.

Para ele, o principal impacto que o programa deve ter no público, é de gerar reflexão “sobre o que foi e o que é ser negro ainda na nossa sociedade” e a “força que o povo preto precisou ter para se manter de pé e a contribuição que o negro deu à formação , economia e cultura do nosso povo, da nossa cidade e do nosso país“.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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