O entregador Thiago Santos Silva falou com o Notícia Preta, sobre as ofensas racistas que afirma ter recebido do policial federal Alexsander Canto Mielke ao realizar uma entrega no último sábado (23), em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Thiago foi xingado de ‘negro safado, preto ladrão‘ pelo escrivão da Delegacia de Repressão a Crimes Previdenciários (Deleprev) após pedir ao porteiro que Alexsander descesse para pegar o pedido e o cliente ter negado.
Além das ofensas, Thiago relatou ainda a dificuldade que teve para registrar o ocorrido na delegacia.
O escrivão exigiu que o entregador subisse para entregar o pedido em seu apartamento e ao chegar na porta com a entrega Thiago foi recebido com xingamentos racistas. Além disso, ao abrir a porta, Alexsander estava com um cachorro e sacou uma arma.
Em entrevista ao NP Thiago revelou que inicialmente tentou fazer um boletim de ocorrência em duas delegacias, mas não conseguiu, pois foi orientado a fazer pela internet.
O entregador disse que só foi ouvido após protestar junto a outros motoboys, em frente ao prédio em Copacabana, na Zona Sul do Rio, em que o caso aconteceu. Thiago contou que após o ocorrido, se dirigiu a 12ª Delegacia de Polícia (DP) em Copacabana, e depois foi a 13ª DP, no mesmo bairro, e nas duas recebeu a mesma orientação de fazer o registro online.“Queria fazer naquela hora, eu estava revoltado”, disse Thiago.
Ao sair da 13ª DP, o entregador de 31 anos voltou ao local da ocorrência, pois comunicou ao líder da equipe de motoboys da loja em que trabalha sobre o caso, e o líder resolveu fazer um protesto em solidariedade a Thiago. Cerca de 60 motoboys realizaram um “buzinaço”, de acordo com ele
“A policia só foi aparecer lá porque houve denúncia que estávamos fechando a rua, aí os policiais me ouviram, e aí conduziram eu e Alexsander até a delegacia”, revelou o entregador. No final, o caso foi registrado na 12ª DP (Copacabana) como injúria e ameaça.
Entenda o caso segundo o entregador
- Ao chegar informou ao porteiro que havia uma entrega do Zé Delivery pra fazer, e disse o nome do cliente, e número do apartamento
- Perguntou ao porteiro se o cliente poderia descer para retirar o produto na portaria, pois é norma do aplicativo, informou Thiago
- O porteiro interfonou, após três minutos, informou que o cliente disse que se Thiago não subisse poderia cancelar a entrega e ir embora.
- Thiago disse que estava na última entrega e decidiu subir. Ao chegar na porta do apartamento saiu um cachorro da raça Pitbull que ficou lambendo e cheirando Thiago.
- Segundo Thiago, o cliente saiu de maneira truculenta, e disse que era obrigação do entregador subir, e que pagou o serviço porque o entregador é obrigado a subir.
Segundo o entregador, ele foi explicar as normas do aplicativo, e o policial sacou a arma e disse e ameaçou Thiago.
“Cala boca, você não tem direito de falar nada, quer ver que eu te explodo aqui?! Você é um negro safado, preto ladrão, a tua obrigação é fazer o teu serviço e seu serviço é subir até a casa do cliente”.
De acordo com o motoboy, após Alexsander sacar a arma, ele levantou as mãos e andou pra trás em direção ao elevador. Mas o cliente disse para Thiago voltar e falou, guardando a arma: “Volta aqui, rapaz, eu vou pagar essa p*rra , não sou ladrão igual a você, seu preto safado, sou policial”.
Ao receber o pagamento e se dirigir novamente ao elevador, o cliente continuou: “Não fica de gracinha comigo não que eu te explodo aqui e em qualquer lugar”. Thiago conta que desceu e confirmou com o porteiro que os corredores do prédio possuem câmeras. E então, foi até a delegacia.
Defesa
Em depoimento, Alexsander negou as acusações e justificou que pegou a arma por ter se sentido “ameaçado” pelo entregador. O agente da PF também disse que Thiago disse para Alexsander “descer no meio da rua” e que ele estava alterado, dizendo que Alexsander deveria ter descido.
Ele se defende, negando “ter chamado o entregador de macaco, de preto ou de ladrão”, e “que todas as afirmações são mentirosas”, e também garante que não apontou a arma para o entregador em momento algum.
Entramos em contato com a Polícia Civil para um posicionamento oficial quanto as instruções sobre a realização do boletim de ocorrência online. ntramos em contato também com a Polícia Federal sobre o envolvimento de Alexsander Canto Mielke. Até o fechamento da matéria, não tivemos resposta.
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