Dia Mundial do Rock: Segundo especialistas, gênero musical tem origem negra

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No Dia Mundial do Rock, comemorado nesta quinta-feira (13), o Noticia Preta entrevistou o músico, produtor musical e rockeiro Rafael Lima, e a design de moda e pesquisadora da cultura vintage negra Paula Renata, mais conhecida como Miss Black Divine, para falar sobre o rock brasileiro e mundial e seus recortes políticos e raciais.

Os entrevistados falaram sobre o pioneirismo negro no rock, nos Estados Unidos, e sobre artistas brasileiros que marcaram a história do rock para a população negra. “Se o rock não fosse atribuído a Rosetta, seria a Buddy Guy e Little Richard, também negros. Mas a contracultura quer trazer esse brilhantismo de ser uma mulher negra que empunha uma Gibson SG (guitarra) e começa uma revolução musical, o que deixa o rock ainda mais fascinante” disse Rafael, que é integrante da banda Memora.

Miss Black afirmou que Rosetta Tharpe é percussora do ritmo, e lamentou que não tenha o reconhecimento que deveria. “Ela é a primeira pessoa que se sabe, na história, a usar uma guitarra elétrica, e infelizmente ainda não tem seu nome tão lembrado quanto de outros ‘reis’. Eu comecei a pesquisar sobre pioneiros negros do rock nacional e até hoje não acho informações direito, como por exemplo Baby Santiago, que ficou até conhecido como o Chuck Berry brasileiro, e o grupo Golden Boys. É aquele ditado né, desapontada, mas não surpresa.”

Miss Black Divine /Foto: Reprodução Facebook

Tanto Rafael Lima quanto Miss Black Divine falaram sobre os artistas e fãs negros do estilo no Brasil.

“No boom que a internet teve nos últimos 3 anos com a visão para as questões raciais, conseguimos ver mais pessoas pretas que estiveram no estilo a tantos anos e nem sabíamos que existiam. Surgiram várias páginas voltadas a negros no rock, mas infelizmente, apesar do rock ter sido criado por pessoas pretas, ainda somos poucos” disse a design.

Já o músico disse que conta nos dedos as bandas de pesosas negras que viu nos últimos 10 anos, e cita três delas. “Banda Gente, Trama e Plastic Fire, mas somos minoria. No mainstream, a única que me vem à mente no momento é o Sepultura com o Derrick”.

Ele falou também sobre o preço dos instrumentos serem inacessíveis a pessoas mais pobres, e afirmou que “o rock no Brasil foi introduzido pela importação do clareamento do rock internacional”, criticando a forma como o gênero musical foi estabelecido no Brasil. “Rock aqui sempre custou caro: as canções que influenciaram toda uma geração de artistas só chegavam por intermédio dos que tinham acesso a pagar caro por um LP importado“.

“Friso com força: o rock é preto”, diz Rafael Lima da Memora / Foto: Reprodução Instagram.

O músico frisou ainda a importância de Elza Soares, para o gênero musical, e para a presença de pessoas negras no rock, assim como Rosetta.

Recentemente perdemos Rita Lee e toda a comoção em torno dela é absolutamente legítima. Mas o que Elza Soares foi rock’n’roll não se tá escrito, até mesmo quando fazia o samba. O drive da voz, a força e pungência das interpretações. Elza tinha distorção na voz natural, em seus scats, mas principalmente na força de vida e inclusive em seus últimos trabalhos, Elza traz uma verdadeira aula de rock em suas canções. Rosetta e Elza vieram pra que eu pudesse existir, pra que o Derrick existisse no Sepultura, pra que houvesse o Black Pantera, a Banda Gente, a Trama, o Plastic Fire… o rock’n’roll é sobre isso“.

Rafael ainda acredita que a internet democratiza o acesso e comemora ver a banda brasileira Black Pantera, por exemplo, fazer sucesso.

Miss Black acredita que, o rock “é um estilo alternativo e que com todo o apagamento que foi feito durante a história, quem ficou a frente foram os brancos”, e pautaram o que se destacou no gênero.

“Apesar de ser um estilo político (assim como todos estilos ditos alternativos) que deveriam ir contra todas as formas de preconceitos, esse lado foi o que se sobressaiu. Muitos ainda se inspiram no rock da época dos Confederados”.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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