Viúva de músico morto por militares enfrenta dificuldades: “Me sinto abandonada”

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Lucia ainda não foi procurada pelo exército, um ano após o crime – Foto: Hermes de Paula / O Globo

Um ano após o assassinato do músico Evaldo dos Santos Rosa, que teve seu carro fuzilado, com 80 tiros, por militares, na Zona Norte do Rio, sua viúva Lucia dos Santos Nogueira, de 42 anos, enfrenta dificuldades financeiras. A situação se agravou após Lucia, que é técnica em enfermagem, perder um dos dois empregos que tinha em um hospital da cidade.

Em entrevista ao jornal ‘Extra’, a viúva conta que os gastos aumentaram por conta do tratamento psicológico para ela e o filho, Davi de 8 anos. Segundo Lúcia, o menino precisou mudar de escola e, após a morte do pai, passou a ter mudanças de comportamento. “O Davi passou por um trauma muito forte. Perdeu o pai, o melhor amigo. O Duda (como ela chama Evaldo) era muito carinhoso com ele. Outro dia, ele me olhou, fez uma cara de choro e disse: ‘Tenho vontade de socar a cara de alguém’. É um menino carinhoso, mas às vezes fica agressivo. Por isso, o acompanhamento profissional é importante”, afirma a mãe.

Lucia contempla a foto da família – Foto: Hermes de Paula / O Globo

Lúcia, entretanto, tem direito a uma pensão da União: no último dia 4 de fevereiro, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou o pagamento de R$ 2.348,84 mensais à mulher e ao filho. Até hoje, a família não recebeu nada. “O Exército nunca me procurou. Não pediram nem desculpa, não quiseram saber como eu estava, como estava meu filho. Nada. Tivemos que entrar na Justiça para conseguir a pensão, que, hoje, seria fundamental para eu e meu filho podermos nos sustentar. Eu me sinto abandonada”, conta Lúcia.

Burocracia
Para que ela comece a receber a pensão, restam somente entraves burocráticos, já que a decisão é em segunda instância. O processo segue para decidir sobre um pagamento de indenização à Lúcia, Davi e aos irmãos de Evaldo.

O caso
O caso ocorreu em abril de 2019. Evaldo e a família seguiam para um chá de bebê, em Guadalupe, quando foram parados por 12 militares. Segundo a denúncia, o carro do músico foi atingido por 67 dos 257 tiros disparados pelos militares. Um dos tiros atingiu Evaldo que morreu no local. O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, tentou socorrer a família, mas também foi atingido e morreu no hospital.
Os militares alegam que não queriam acertar Evaldo, mas que reagiram a um assalto e que viram Luciano armado. Eles respondem ao processo em liberdade. A sentença deve sair ainda no primeiro semestre

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