Nesta terça-feira (13), a influenciadora Virgínia Fonseca prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, no Senado Federal, mas se recusou a revelar os valores que recebeu em contratos com casas de apostas online. O silêncio da influenciadora ocorre em meio ao avanço de dados que apontam o crescimento do endividamento entre famílias negras e de baixa renda em decorrência das apostas digitais.
Amparada por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Virgínia confirmou que recebeu valores fixos para promover empresas do setor, negando que tenha lucrado com as perdas dos apostadores, prática conhecida como “cachê da desgraça”. Segundo ela, seus contratos não previam comissões proporcionais ao prejuízo dos usuários.
A relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), questionou a influenciadora sobre a responsabilidade de figuras públicas nesse contexto. “Quem está devendo fica desesperado para repor e deixa de comprar comida”, afirmou, ao destacar os efeitos sociais das apostas nas famílias brasileiras.
Um relatório técnico do Banco Central do Brasil, divulgado em agosto de 2024, revelou que cerca de R$ 3 bilhões oriundos do programa Bolsa Família foram transferidos para casas de apostas naquele mês. As transferências foram feitas via Pix por aproximadamente 5 milhões de beneficiários. Ainda segundo o relatório, 70% dos que fizeram essas transações eram chefes de família, com valor médio transferido de R$ 100 por pessoa, o que representa cerca de 20% do benefício mensal.
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Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Favela Diz em parceria com o Instituto de Pesquisa da Universidade de São Paulo (IP-USP) reforça a dimensão do problema. Segundo o estudo, 70% dos moradores de favelas no Brasil fazem apostas esportivas online, e quase metade desse grupo aposta diariamente. A maioria dos apostadores é composta por pessoas negras, jovens e de baixa renda, que veem nas plataformas uma chance de ascensão econômica.
Além disso, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (FecomercioSP) registrou mais de 1,3 milhão de inadimplentes em 2023 devido a perdas com apostas em cassinos e plataformas digitais.
Diante desses dados, o Ministério da Igualdade Racial emitiu nota técnica demonstrando preocupação com os efeitos das bets sobre a população negra, alertando para o risco de agravamento das desigualdades econômicas e sociais. A pasta também chama atenção para o uso massivo de estratégias de marketing que envolvem influenciadores digitais de grande alcance para atingir consumidores em situação de vulnerabilidade.
Além de Virgínia Fonseca, a CPI das Apostas já ouviu outros nomes ligados ao setor, como Julio Cocielo, Ney Silva e Gabriel Gasparini. A comissão investiga a atuação das casas de apostas no Brasil e o papel de influenciadores na popularização dessas plataformas.
A próxima etapa da CPI deve incluir a convocação de representantes das empresas que operam no país, além de especialistas em regulação e políticas públicas voltadas à proteção de consumidores em situação de risco social.