Baseado em poema de Abdias Nascimento, espetáculo ‘Libertador’ entra em cartaz na Baixada Fluminense: “O teatro preto está de pé”

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Abdias Nascimento é um dos nomes mais reverenciados na cultura brasileira. Ator, diretor, dramaturgo e militante contra a discriminação racial e a valorização da cultura negra, Abdias escreveu em 1981 o poema “Padê de Exu, libertador”, que hoje abre caminhos para Thiago Viana estrear seu espetáculo inspirado no poema, na Baixada Fluminense, nos dias 13 e 28 de setembro, em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, respectivamente.

Com produção, pesquisa e interpretação de Thiago Viana, o espetáculo Libertador conta a jornada da cosmogonia africana até o encontro com a poesia de Abdias Nascimento. O monólogo propõe reverenciar o sagrado até atingir os dias atuais através do poema, que quase 40 anos ainda ecoa nos corpos negros.

O Portal Notícia Preta conversou com o ator e produtor Thiago Viana sobre os desafios do monólogo e os constantes casos de violência contra religiões de matriz africana. “ Há uma onda terrível e não sabemos o que pode vir “, iniciou falando o artista.

Noticia Preta: Como foi o processo e concepção do projeto?

Thiago Viana: O projeto inicial começou com o poema Padê de Exú, libertador, quando era somente uma performance em que eu fazia pela cidade. Justamente esta performance leva a foto oficial do espetáculo, mantive a essência, assumindo a sinceridade do Padê de Exú para o espetáculo. Quando levantei a ideia em 2017 de montar o espetáculo, convidei o diretor Gatto Larsen e o figurinista Rubens Barbort expoente percursores da dança afro contemporânea do Brasil para o mundo, para estarem assinando essas funções no projeto ” LIBERTADOR” espetáculo teatral para um editalO roteiro surgiu em uma experiência fantástica na minha casa de Santo T’ogum Jobí. Para cada cena um personagem diferente, onde eu transito e conto um pouco deste tudo que é o espetáculo inteiro sobre Exú. Os espaços de ensaio, o terreiro Contemporâneo e o Museu da História e da Cultura Afro Brasileira trouxeram a essência por serem espaços negros. 

NP: Qual foi o maior desafio em estrelar um monólogo escrito por você mesmo?

O roteiro.  Porque em 2017 vivíamos caso de intolerância religiosa. E eu queria falar sobre isso com o público nas ruas. Sim, começamos nas ruas. Neste caso esse era o desafio, em ocupar o Museu de Arte do Rio e a ilha de Paquetá e não ser discriminado por transferir um conhecimento milenar que é a cultura afro brasileira. Tive casos de discriminação no Rio e em Curitiba, mas resolvidos na hora. O problema é que ainda estamos ceifados a intolerância e a discriminação por não termos instrumentos para estes fins. Mas a galera está resistindo e o teatro afro, preto está de pé. E manter ele é o desafio. 

NP: Fale um pouco sobre sua a trajetória e dos seus trabalhos voltados para religião.

Comecei em novembro de 2006 com “Palavras de Castro Alves” já assinando como autor e ator. Depois veio “Anastácia”, e seguiu. Quando realizei como autor, diretor e ator, o espetáculo “Histórias afro brasileiras, cenas Itinerantes”, no circuito Histórico de Celebração a Herança África, foi o norteador para que tudo viesse a acontecer. Foi nas pesquisas que fui descobrindo um pouco mais sobre mim. Nos processos de ensaio com a companhia de teatro Do Porto. É um pouco assim, sabe. Nos esconderam muitas histórias e perdemos muito de nós. Agora, estou pautado nestes temas sobre a nossa religião que é uma maneira cultural de poder contar o nosso passado para todos.

NP: O país, principalmente o Estado do Rio de Janeiro, vive uma onda de violência contra religiões de matriz africana. Você já passou por alguma situação dessa? E como isso se reflete no espetáculo?

 O espetáculo surgiu como resposta a estes ataques. Fomos para a rua, depois para a galeria de museu, depois o teatro fechado. Foram feitas rodas de conversas, debates, exibição de filmes. Tudo que pudéssemos chamar atenção para o tema. Agora estamos indo para estes municípios onde foram registrados diversos casos de intolerância religiosa, racismos religiosos, depredação de patrimonial, invasão de propriedade. A casa em que sou filho sofreu três ataques nos últimos dois anos. Está fechada! 

NP: O que o público da Baixada Fluminense pode esperar do espetáculo?

Esperem um espetáculo libertador.

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