Sequenciamento genético inovador revela necessidades únicas das peles negras

pele negra

Um levantamento inovador promete preencher lacunas históricas no cuidado e na ciência dermatológica voltados para peles pretas e pardas. A pesquisa, com duração prevista de dois anos, está analisando características moleculares específicas dos diversos tons de pele brasileiros, utilizando uma metodologia avançada e detalhada.

Realizada pela Natura, em parceria com o Centro de Química Medicinal (CQMED) da Unicamp e a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), a iniciativa busca desenvolver produtos mais inclusivos e eficientes, além de tratamentos médicos capazes de atender melhor às necessidades da população negra, frequentemente negligenciada em estudos dermatológicos.

Mesmo representando mais da metade da população brasileira, pessoas negras enfrentam uma série de desafios na área dermatológica devido à escassez de pesquisas científicas dedicadas às especificidades de suas peles. “Esse estudo será crucial para mapear necessidades específicas e desenvolver formulações adequadas”, explica Juliana Lago, gerente científica da Natura.

A partir desse estudo, será possível analisar e comparar múltiplas expressões e padrões genéticos e celulares presentes entre as diferentes colorações – Foto: Pexels

Além disso, doenças de pele, como o câncer, são diagnosticadas tardiamente em pessoas negras com maior frequência, já que os estudos e materiais médicos priorizam, em sua maioria, peles claras. Essa lacuna dificulta diagnósticos precoces e tratamentos eficazes, comprometendo a saúde de milhões de brasileiros.

Para identificar com precisão as necessidades dermatológicas das peles pretas e pardas, os pesquisadores estão utilizando técnicas como o sequenciamento de RNA de células únicas. Essa tecnologia permite analisar o perfil molecular de cada célula separadamente, ao contrário de métodos tradicionais que avaliam dados de maneira generalizada.

“As análises detalhadas abrem um leque de possibilidades para entendermos melhor os padrões genéticos e celulares específicos de cada tipo de pele”, afirma Marco Vinolo, professor do Instituto de Biologia da Unicamp. Os resultados da pesquisa serão integrados ao Human Cell Atlas, um banco de dados global que reúne informações sobre tipos de células humanas.

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Dimensão social e o impacto do Projeto Dandara

Além da análise biológica, a pesquisa também abrange aspectos sociais por meio do Projeto Dandara, que entrevistou mais de mil mulheres negras e pardas no Brasil. O levantamento revelou desafios como maior sensibilidade da pele, tendência à hiperpigmentação e a necessidade de cuidados intensos com hidratação.

Esses dados foram fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos e destacaram a importância do autocuidado na autoestima e na identidade da mulher negra. A pesquisa reflete um movimento necessário para tornar o mercado cosmético mais representativo e comprometido com a diversidade brasileira.

Ciência e inclusão como caminho para o futuro

A parceria entre academia e indústria reforça a necessidade de desenvolver soluções que atendam à pluralidade da população. “Projetos como esse conectam o conhecimento científico às demandas reais da sociedade, promovendo inovação de forma inclusiva e genuinamente brasileira”, destaca Katlin Massirer, coordenadora do CQMED.

Este estudo representa um passo essencial para reduzir desigualdades históricas e trazer mais equidade ao campo da ciência e do autocuidado.

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