Recuo de 5% nos cargos liderados por mulheres situa Brasil na contramão do mercado global, aponta pesquisa

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Paralelo à crise na gestão nacional, 72% das mulheres afirmam sofrer preconceito de gênero, afetando oportunidades de promoção ou liderança. 

Um dado da ‘Grant Thornton International‘ (GTIL) indica uma retração de 5,3% nos cargos de liderança sênior ocupados por mulheres no Brasil. Segundo o mapeamento, que teve início em 2007, o país está indo na contramão do mercado médio global, que avança, mesmo à passos lentos (0,5%), no comparativo ao ano anterior. 

Em 2025, a liderança feminina mundial chegou à bater 34% dos cargos de alta gestão, segundo o relatório ‘Women in Business 2025 – Impacting the missed generation‘, da GTIL. Sendo que a última previsão da Grant Thornton é que até 2051cerca de 50% desses cargos ‘sênior sejam ocupados por mulheres

Fato é que o acréscimo diversional, em quadros executivos de diferentes países, tem gerado bons frutos para as organizações. Afinal, um em cada cinco líderes já observam suas empresas mais atraentes para potenciais clientes e investidores, através de estratégias de igualdade. O problema é que 72% das mulheres ainda sofrem preconceito de gênero, afetando oportunidades de promoção ou liderança, segundo a pesquisa ‘Barriers to leadership report 2025‘, da ‘Women in Tech’

O preconceito não é a única barreira à ser enfrentada pelas mulheres. O estudo da Women In Tech afirma também que 58% das mulheres não têm o mesmo acesso ao networking que os colegas homens; 56% já enfrentaram discriminação ou assédio que prejudicaram a progressão na carreira, e, devido à uma soma de fatores, 85% relataram sofrer de síndrome do impostor ou duvidar de si mesma.

É transformando essa vivência e espelhando gerações futuras que a executiva de atendimento e Relações PúblicasThainá Pitta, traz o diferencial do ‘olhar feminino’ aos processos de gestão. Inserida como mulher negra e baiana dentro de ativações culturais importantes, a especialista se posiciona em meio à grandes organizações e eventos como o Energy Summit 2025, Rio2C, Pacto Global da ONU, The Town, Afropunk, e o Prêmio da Música Brasileira. Segundo ela, a perspectiva feminina é indispensável para o sucesso das organizações e projetos, especialmente no setor  artístico-cultural, onde a pluralidade de visões é um ativo estratégico.

Executiva de atendimento e Relações Públicas, Thainá Pitta – Foto: João Lins

“A diversidade transforma o modo como pensamos, executamos e nos comunicamos, enquanto marcas. Quando se constrói uma programação, ativação ou uma entrega de marca com múltiplos olhares, estamos ampliando o alcance e a conexão genuína com um público que não é, de forma alguma, homogêneo. É aí que o olhar feminino observa nuances, antecipa demandas e corrige rotas antes mesmo delas virarem um problema. A ocupação das mulheres em cargos sênior, CEO’s de empresa e Executivas, portanto, torna-se um pilar estratégico para essas organizações, já que a bagagem cultural e emocional que costumamos trazer analisa e propõe soluções para obstáculos; sejam eles advindos de públicos internos ou externos”, explica.

Tal protagonismo feminino, reiterado por Thainá, tem avançado à passos sólidos nos bastidores da cultura e no embate ao estigma masculinizado de liderança eficaz. Entre as personalidades femininas ‘referências’ em liderança, destacam-se Amanda Carneiro, curadora do MASP e referência em práticas curatoriais decoloniais; Eliana Alves Cruz, escritora, roteirista e referência na valorização da cultura negra brasileira; Luana Génot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil; e Carol Barreto, estilista, curadora e pesquisadora baiana que articula moda, arte e ativismo. Não se limitando ao Brasil, a norte-americana Misty Copeland, primeira bailarina negra a alcançar o posto principal no ‘American Ballet Theatre’, também pertence às figuras históricas que ocuparam lugares estratégicos de sucesso. 

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A presença dessas mulheres em cargos executivos, estratégicos ou de destaque, segundo Thainá Pitta, levantam a discussão sobre o quanto a gestão homogênea é ineficaz para metrificar demandas e soluções reais. “Eu costumo acompanhar de perto o backstage de grandes negociações com marcas, e a escuta qualificada que nós mulheres temos faz toda diferença. O cuidado com o detalhe, o entendimento do impacto social e o senso de propósito transformam uma entrega totalmente técnica em experiências e ativações de marca que tenham proximidade com o público. Isso só é possível quando o time é diverso, já que os horizontes se expandem e os resultados são palpáveis“, provoca. 

A especialista em conexões e estratégias de relacionamento defende que uma entrega consistente, à partir de perspectivas plurais, fortalece a cultura organizacional das marcas. Segundo a relações públicas, quando as decisões passam à incluir novas vivências, os projetos ganham representatividade, profundidade e impacto social, especialmente em áreas como cultura e entretenimento, onde o vínculo com o público é construído por meio de identificação e escuta ativa – não muito diferente de outros setores comerciais. É dessa forma que a profissional se destacou no relacionamento com empresas como iFood, Bradesco e Petrobras.

Com um olhar voltado para as relações humanas dentro da cadeia produtiva, Thainá explica que o desafio é garantir que a diversidade ultrapasse discursos pontuais e se torne uma política estruturada, capaz de enfrentar o preconceito de gênero e a desigualdade nos cargos de liderança. “Para superar a retração na liderança feminina brasileira, devemos contar com uma implementação de políticas estruturadas. Não podemos ir de contramão ao fenômeno mundial nesse aspecto. As empresas devem integrar diversidade à governança corporativa, promovendo métricas objetivas e accountability para combater preconceitos, garantindo equidade real nos processos decisórios”, conclui.

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