A jornalista e influenciadora digital Rafaela Fleur falou pela primeira vez nesta segunda-feira (31) sobre o assunto que viralizou nas redes sociais, após internautas a acusarem de ‘blackfishing’ que é quando mulheres brancas fazem um conjunto de transformações para alcançar a aparência de negras.
Ela contou que é de uma família negra mas que na sua adolescência utilizou de diversas estratégias de embranquecimento. Rafaela explicou como fazia as fotos com filtros, manipulava vídeos, para ser aceita por algumas pessoas e ter acesso a alguns ambientes. “Eu ouvia as pessoas dizerem que eu era mais bonita por foto do que pessoalmente. Eu não achava que tinha que ser mais branca, eu achava que tinha que ser mais bonita. Eu coloquei lentes de contato verde que machucava meus olhos. Eu tinha medo que as pessoas me desvendassem“, contou a comunicadora.
Ela se entendeu enquanto negra quando se mudou para São Paulo: “Foi aqui que comecei a acessar espaços de luxo, privilegiados e nesses espaços eu comecei a ouvir uns comentários do tipo ‘que preta maravilhosa’. Na minha cabeça não fazia sentido, na minha cabeça eu tinha certeza que eu não era negra. Até que chegou um momento que eu comecei a questionar algumas coisas e foi ai que comecei meu processo identitário“.
Além de fazer comparações entre imagens antigas e fotos novas do jornalista nas redes sociais, alguns internautas sugeriram que ela teria ficado negra ‘de repente’ para ter acesso a oportunidades de trabalho direcionadas para pessoas pretas.
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“Tinha muita gente falando assim ‘quem é negro mesmo não tem como se disfarçar’. E eu concordo que aos olhos dos brancos não tem como se disfarçar, mas a gente cria mecanismos de pertencimento. Tem sido muito difícil ouvir as coisas que eu tenha ouvido, mas espero que o que acontece comigo sirva pra gente conseguir avançar nesse debate”, disse a jornalista.
Rafaela explica que, apesar de ter desfilado em 2002 na São Paulo Fashion Week, não é modelo. Rafaela é formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e trabalha como influenciadora no Instagram desde 2014.
“Não sou a primeira pessoa negra de pele clara a se perceber negra depois de muitos anos. Isso não me isenta de violência. O racismo me atravessa de outras formas. Sei que não vou atravessar o que pessoas retintas atravessam. Quem é branco não tem dúvida. Eu nunca fui vista como branca por pessoas brancas“, disse a jovem.