Dirigido e idealizado por Kinho JP, Proibidão é um espetáculo de dança que aborda a favela e suas identidades como tema principal, sendo uma criação coletiva que investiga a cultura favelada e as narrativas de corpos que atravessam este território, através de danças como o Passinho e a Dancinha. O espetáculo, elabora as vivências destes corpos marginalizados.
A estreia será na sexta-feira (18), seguindo até domingo (20), sempre às 19h. Os funks proibidões, que serviram como inspiração para este espetáculo, é um ritmo marginalizado pela sociedade, mas são canções que muitas vezes trazem um retrato da realidade das vidas periféricas.
“O Proibidão surge a partir de uma inquietação minha acerca da favela e o que compõe esse lugar. Tudo o que vem da periferia é visto pela sociedade, principalmente a burguesia, com um outro olhar. E daí comecei a refletir sobre inúmeras questões que envolvem o baile funk, as músicas e as letras que as compõem. A partir da minha pesquisa, eu comecei a aprofundar e percebi que o ato de proibir, ou de tentar proibir, está presente em muitas outras coisas além dessas três coisas básicas que acabei de citar”, explica Kinho JP, que sempre trabalhou como intérprete, sendo essa a primeira vez dele como diretor artístico e também o primeiro trabalho de criação autoral.
Kinho Jp lembra ainda que o “proibidão” muitas é criticado e marginalizado, mas as músicas refletem a realidade das comunidades. “Eu cresci vendo bandido sendo o cara bom e o policia sendo o cara ruim, vendo o policial dando tapa na cara do trabalhador, enquanto o traficante distribuía doces nos dias das crianças, então a minha relação sobre o que é bom e o que é ruim, o que é do bem e o que é do mal, é diferente do restante das pessoas que não são da periferia. Esse foi o ponto de partida”, comenta.
Trazendo a vivência não só para o palco, mas também compartilhando com a comunidade, o artista destaca: “A partir da realidade da favela, o tráfico acaba sendo ali uma opção e consequentemente uma escolha. Eu, como dançarino, hoje em dia tento dar outras opções além do tráfico, mas eu acho que vale lembrar que nem sempre a cultura consegue fazer esse papel de auxiliar. Então muito do que é proibido, do que as pessoas dizem ser proibido, pra mim é um outro lugar”, ele diz.
Portanto, quando o Kinho começou a trabalhar com a arte, seu entendimento sobre as questões se tornaram mais evidentes e ele viu a necessidade de trabalhar essas perspectivas e levar todas essas questões que o permeiam para dentro da cena, construindo, a partir de laboratórios e dinâmicas com os intérpretes, um pouco dessas sensações através de corpos dançantes.
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Este é um projeto cultural contemplado no edital Retomada Cultural RJ 2 da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. Todos os intérpretes que compõem o espetáculo têm ligação com a favela, uma escolha do próprio Kinho, como ele ressalta. “O corpo que eu autodenomino de corpo marginal, é um corpo que já carrega consigo uma essência favelada. Então, a escolha dos meus cinco intérpretes terem um corpo marginal é por conta deles terem essa verdadeira identificação com a favela”.
Para intensificar ainda mais as vivências desse espetáculo, todos os envolvidos nessa peça visitaram o Complexo da Penha, passando por becos, vielas, como um fomento de pesquisa para alimentar esse trabalho artístico com verossimilhança.
Em contrapartida, ele complementa. “Para essa galera que tem um distanciamento dessas localidades periféricas, que tem uma mente um pouco mais fechada, eu acredito que talvez possa partir críticas deste lugar, justamente por eu estar defendendo uma arte que é vista com um olhar muito negativo”. A peça se trata de uma crítica social acerca desses corpos e cultura, portanto, ele pontua. “Eu poderia muito bem escolher um tema muito mais fácil, mas acho que a minha trajetória, que eu estou começando a construir agora, passa por um lugar de desafios”.
Os ingressos podem ser retirados gratuitamente pelo Sympla.