Foram localizadas as primeiras ossadas humanas na escavação feita no estacionamento da Santa Casa da Bahia, em Nazaré, Salvador (BA). A infiormação foi revelada nesta segunda-feira (26), durante uma coletiva de imprensa na sede do Ministério Público da Bahia (MP-BA). O espaço abrigava o antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que funcionou por cerca de 150 anos e era destinado a africanos escravizados e outras pessoas socialmente excluídas, como indígenas.
O cemitério foi fechado em 1844 e é considerado o maior cemitério de escravizados da América Latina. A descoberta da localização do cemitério ocorreu em setembro de 2024 e foi feita através de uma pesquisa de doutorado desenvolvida na Iniversidade Federal da Bahia (UFBA), pela arquiteta Silvana Olivieri. A pesquisa usou mapas e plantas antigas da cidade, livros e artigos e comparação de imagens via satélite.

Depois de negociações envolvendo a Santa Casa da Bahia, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o MP-BA, o início das escavações foi autorizado, no dia 14 de maio, data que também simbolizava a data da execução de 4 líderes da revolta dos Malês, levante considerado o maior feito por escravizados na Bahia, em 1835. Há a possibilidade destes homens terem sido enterrados no local.
De acordo com o MP-BA, o local que poderá se tornar o ‘Sítio arqueológico Cemitério dos Africanos’, com a estimativa de que mais de 100 mil corpos de escravizados enterrados.
Descoberta e próximos passos
A coordenadora das escavações, a arqueóloga Jeanne Dias, divulgou a descoberta das ossadas em audiência no Ministério Público. Informou que as ossadas estavam a cerca de 3 metros de profundidade enterradas em solo ácido e úmido e por conta disso passarão por um tratamento de conservação por conta da fragilidade. Os primeiros vestígios da existência do cemitério, foram localizados no dia 16 de maio, mas somente agora foi encontrado material ósseo.
Segundo a arqueóloga, o encontro dessas ossadas ajudará a entender a história e a reconstrução da memória de um lugar que foi apagado por 180 anos. Além da contribuição para entendimento dessas comunidades negras que viviam na Bahia na época.
A promotora de justiça Cristiana Seixas solicitou ao Ministério Público a expansão e preservação da área de estudo onde foram encontradas as ossadas, com a desativação do estacionamento da Santa Casa.
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