“Precisamos inspirar e criar igualdade de oportunidades as futuras gerações de atores negros”, diz Mestre Ivamar

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Mestre Ivamar como Popô. Foto: Globo/Paulo Belote

Popó, personagem de Mestre Ivamar na telenovela “Amor Perfeito”, nova trama das 18h da TV Globo, é um concièrge de hotel, que se gaba de conhecer intimamente todas as “personalidades” que por lá se hospedam, suas manias e peculiaridades. Viveu um lindo casamento com Olímpia (Analu Prestes) e nunca mais se envolveu com ninguém, até se aproximar da professora da cidade e reencontrar o amor. Mas o ator, pesquisador, griô e escritor de 65 anos tem uma trajetória que vai muito além das telinhas. Trazendo vivências das periferias da cidade de São Paulo e ancestralidade dos quilombos por onde andou, em especial do Amapá, cidade onde mora, Ivamar é atualmente uma das principais referências da cultura quilombola no Brasil. Além disso, luta para gerar mais igualdade de oportunidades para atores negros. 

“Eu sou um ‘nêgo véio’ que veio da periferia, e enquanto ator negro represento um tipo muito específicos de pessoas que nunca foram representados de forma qualitativa na teledramaturgia brasileira. A pouco tempo atrás, as novelas traziam sempre os atores negros numa condição subalternizada. Hoje em dia isso vem mudando, e eu estou podendo contribuir com a transformação política do país”,  afirma Mestre Ivamar.

As artes cênicas surgiram na sua vida por volta dos anos 1975, período em que sentiu que o teatro poderia contribuir com a luta antirracista no Brasil. Junto à Casa de Cultura Progressista – CACUPRO, coordenada por Estevão Maya Maya, passou a integrar o projeto “Sinfonias Negras”, que também tinha coordenação de Mestre Lumumba e Mestre TC. Ambos traziam a ancestralidade dos tambores para os seus espetáculos. “Quando o tambor tocava, eu sentia a vibração correndo pelas minhas veias, daí despertei para o poder dos tambores”, conta Ivamar.

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Mestre Ivamar como Popô. Foto: Globo/Paulo Belote

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A relação com os tambores e o convite para a novela

Por ter uma relação de muitos anos com os tambores e a cultura quilombola do Amapá, o convite para a novela veio em um momento que consagra sua trajetória como um ator 60+, que carrega consigo toda a ancestralidade do povo preto.

Ivamar também tem uma voz ativa no movimento negro. “Eu me inspiro, principalmente, em meus pais, que desde os anos 60 eram duas vozes importantes no que hoje entendemos como luta antirracista. É preciso que possamos celebrar os que vieram antes, os nossos ancestrais”, ressalta o ator.

Paulistano, nascido na Penha, bairro da zona leste de São Paulo, Ivamar morou em Angola durante quatro anos, entre 1979-1983, sua chegada foi após a morte de Agostinho e Neto e pode contribuir na reconstrução do país, principalmente no desenvolvimento cultural.


Nos anos 2000, coordenou a pré-conferência das centrais sindicais no Brasil, sendo uma preparatória para a  Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata em Durban, que ocorreu em 2001, na África do Sul. A conferência foi promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Quando retornei ao Brasil, iniciamos a luta pelas ações afirmativas, e essa conferência foi fundamental neste sentido, porque o Brasil pactuou a implementação da política de cotas na Universidades das políticas antirracistas”, lembra Ivamar. 

Em 2002, por conta de sua extensa pesquisa com quilombos, Ivamar foi convidado a desenvolver o Levantamento Preliminar da Cobertura Previdenciária nas Comunidades Remanescentes de Quilombos com Terras Tituladas;  por conta desse levantamento, pode pesquisar quilombos na Amazônia e assim conheceu o estado do Amapá.

Em São Paulo, Ivamar também trabalhou como arte educador na antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM) por dois anos, atual Fundação Casa,  onde pôde desenvolver a arte do canto com todas as crianças que ali se encontravam em grande vulnerabilidade social. “Nesta época, o samba foi um grande aliado na recuperação delas, pois precisavam de acolhimento e afeto”, conta mestre Ivamar .

Amazonizando: não existe avanço sem entendermos a realidade do outro

Morando há mais de vinte anos em Macapá (AP), o artista é apaixonado pela cultura do Marabaixo, e criou em 2016, junto com seu filho Felipe Henrique e sua esposa, Suane Brazão, o “Coletivo Amazonizando”. O grupo realiza trabalhos de percussão, ancestralidade e empreendedorismo negro, tanto na capital amapaense quanto em São Paulo. Oferecido de forma gratuita e sem restrição de idade, o coletivo traz a cultura do Marabaixo como  sua maior expressão cultural.

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