Policial que matou 4 pessoas da mesma família vai a juri e advogado da família diz que crime teve “contexto racial”

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O julgamento do policial militar Andersen Zanuni Moreira dos Santos, acusado de assassinar quatro pessoas em uma pizzaria de Porto Alegre em junho de 2021, foi marcado para 30 de outubro, a partir das 9h. O júri popular irá analisar os crimes de homicídio qualificado (quatro vítimas), violação de domicílio qualificada e contravenção de vias de fato.

Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, Ismael Schmitt, advogado que representa a família das vítimas, afirmou que os homicídios têm um claro “contexto racial”. Ele critica a narrativa inicial divulgada, que associava as vítimas a facções criminosas, e destaca que, na verdade, todos os mortos eram membros de uma mesma família, com conduta ilibada, sendo profissionais e pais exemplares.

“Jovens negros e moradores da periferia precisam ‘provar’ que não são criminosos. Na prática, vemos a cultura policial do ‘atira, depois pergunta'”, declarou Schmitt. O caso foi acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, representada pelo deputado Matheus Gomes, e pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, sob responsabilidade do deputado Jefferson Fernandes.

As vítimas do episódio foram quatro homens da mesma família: os irmãos Cristian e Cristiano Lucena Terra, de 33 e 38 anos; Alisson Correa Lucena, primo deles, de 28 anos; e Alexsander Terra Moraes, sobrinho, de 26 anos.

Policial vai a júri popular e advogado questiona porque homens negros devem provar inocência mesmo depois de mortos – Foto: Arquivo Pessoal.

O acusado cumpriu prisão preventiva por 311 dias, mas obteve liberdade provisória em junho de 2022. Na decisão, a juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva considerou fatores como a ausência de antecedentes criminais e condições pessoais favoráveis, mas também registrou a existência de uma denúncia de estupro de vulnerável contra o PM.

Sobre o fato de o réu responder ao processo em liberdade, o advogado manifestou indignação. Ele menciona a “duração razoável do processo” como uma questão relevante, mas critica a situação do policial. “Não é crível que o assassino esteja, neste momento, fardado, armado e ‘cuidando da população’. Parte da injustiça é que a corporação não trata seu colega como ‘bandido’ e lhe recebe de braços abertos, oferecendo uma segunda chance que as vítimas assassinadas não tiveram”, completou Schmitt, lembrando que um dos mortos era filho de um policial.

Sobre as expectativas para o júri, o advogado foi direto: “A família e seus advogados esperam que a dor seja amenizada através da condenação do policial à pena de prisão e expulsão das fileiras da corporação”, afirmou.

A defesa do policial, formada pelos advogados David Leal, Roger Lopes, Jader Santos e Cristian Tombini, sustenta a tese de legítima defesa, afirmando que as imagens de videomonitoramento do local comprovam essa versão. Sobre a acusação de estupro, os defensores reiteram a inocência do cliente, mas optaram por não detalhar o andamento desse processo.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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