Um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revela que a juventude negra sofre mais com a violência do que as pessoas brancas. Segundo os números do DataSUS, usado como base da pesquisa, a taxa de homicídios de pessoas brancas entre 15 e 29 anos, é de 34 a cada 100 mil habitantes. Já em relação aos jovens negros, na mesma faixa etária, a taxa de assassinatos chega a 98,5 para cada 100 mil habitantes, sendo quase três vezes maior que os jovens brancos.
De acordo com Cristiane de Freitas Cunha, professora do Departamento de Pediatria e coordenadora dos projetos “Janela da escuta” e “Brota – juventude, educação e cultura” da Faculdade de Medicina da UFMG, é preciso falar do racismo diariamente para acabar com o genocídio da população negra. “O primeiro tema que vem à minha cabeça para relacionar juventudes e violências é o racismo, o genocídio da juventude negra no Brasil, que foi até tema de dissertação no Programa de Promoção à Saúde e Prevenção à Violência, que mostrou que o risco de um jovem negro morrer exterminado é cinco vezes maior que um jovem branco em Belo Horizonte”, afirmou.
Genocídio da população negra
Para a professora, o sistema racista é a base do genocídio da população negra e os números não deixam dúvida quanto a isso. “Não é exagero falar em genocídio dos jovens negros. Existe uma ação sistemática e orquestrada pelos governos. Esse é um tema antigo. Quando falamos que policiais matam jovens negros, esse é um sintoma de uma sociedade que permite isso, que explora esse jogo e que marca crianças, adolescentes e jovens negros com processo segregatório a vida inteira”, ressaltou a professora e continuou. “A morte concreta e cruel é precedida por uma morte simbólica. Professores avaliam pior os alunos negros, 80% da evasão escolar é de jovens negros. Antes mesmo de falar em genocídio, é possível falar do racismo, dessa violência que nós, enquanto sociedade, praticamos contra os negros no Brasil. Tem todo um alicerce que sustenta essa prática genocida”.
O Movimento
Segundo Cristiane, para quem afirma que o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português), deveria se chamar todas as vidas importam, a professora explica que “toda vida importa, mas se a gente pensar num processo histórico, numa dívida histórica – nós somos o país que mais escravizou, tanto em termos de tempo quanto em número absoluto de escravos –, é uma política de reparação. É isso: toda vida importa, mas, hoje, umas importam mais que as outras”, enfatizou.
Desigualdades como fatores
A disparidade entre as condições de vida e educação contribuem para o genocídio da população negra, segundo a professora. Ela esclarece que as desigualdades têm cor e raça. “Quem são os mais ricos e os mais pobres? É uma questão gravíssima e muito ligada ao racismo. Porque pessoas negras têm menos emprego e, quando têm emprego, ganham menos. A mulher negra sofre uma segregação dupla. São questões estruturais”, finalizou.