A descoberta de pegadas humanas fossilizadas com cerca de 90 mil anos, feita em 2022 no litoral do Marrocos, voltou a repercutir após a publicação de novos estudos e análises complementares sobre o achado. As pesquisas, divulgadas recentemente em periódicos internacionais, reforçam a importância da região de Larache, no noroeste do país, como um dos mais antigos registros da presença de Homo sapiens no Norte da África.
As pegadas, cerca de 85 impressões preservadas na areia compactada, foram identificadas por uma equipe da Universidade do Sul da Bretanha (França) em parceria com o Instituto Nacional de Arqueologia e Patrimônio do Marrocos. Essas análises indicam que ao menos cinco indivíduos, adultos e crianças, caminharam sobre uma praia antiga, que mais tarde foi coberta por sedimentos marinhos e desérticos, garantindo a conservação dos vestígios por milênios.
Os novos estudos utilizaram tecnologias de escaneamento 3D e datação por luminescência óptica, que confirmaram a idade estimada em 90 mil anos e detalharam a anatomia das pegadas, evidenciando calcanhares, arcos plantares e dedos bem definidos. Essas características confirmam que as marcas pertencem a humanos modernos e não as espécies mais antigas do gênero Homo.
Os pesquisadores afirmam que a costa atlântica do Marrocos pode ter sido um importante corredor migratório para populações humanas antigas, oferecendo condições favoráveis de clima e alimento durante o Pleistoceno.
O achado se soma a outros marcos da paleoantropologia africana, como os fósseis de Jebel Irhoud, também no Marrocos, datados entre 300 mil e 350 mil anos, considerados os mais antigos registros conhecidos do Homo sapiens. As pegadas de Larache mostram que populações humanas ainda habitavam e se deslocavam pela região dezenas de milênios depois, reforçando hipóteses sobre a expansão e adaptação da espécie dentro do continente africano.

Um retrato do passado humano
Embora as pegadas tenham sido encontradas em 2022 e o primeiro artigo científico tenha sido publicado em 2024, a repercussão internacional se intensificou agora, em 2025, após a divulgação de novas análises, imagens detalhadas e modelagens digitais feitas pela equipe de pesquisa. Esse processo é comum na arqueologia e paleontologia: descobertas importantes podem levar anos até serem completamente estudadas e validadas. Só então os resultados são apresentados à comunidade científica e ao público, com segurança sobre sua autenticidade e relevância.
Para os pesquisadores, as pegadas representam um registro raro e direto da presença humana, oferecendo uma visão concreta sobre como nossos ancestrais se moviam em grupo e interagiam com o ambiente há quase 100 mil anos. Mais do que uma descoberta arqueológica, o achado contribui para reconstruir rotas, modos de vida e adaptações climáticas dos primeiros Homo sapiens que habitaram o norte do continente africano.
Leia também: Coluna de rocha quente abaixo da superfície da Terra está dividindo a África, revela estudo