Peça ‘Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica’ conta a história de resiliência de duas travestis

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Espetáculo ‘Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica’ faz temporada na Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo entre os dias 2 e 19 de novembro

O espetáculo que abre a 9ª edição da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo (CCSP) retrata a disputa de narrativas em um Brasil paralelo totalmente atemporal, sedimentado nas vivências entre pessoas trans e travestis.  A peça ‘Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica‘ estreia no CCSP – Espaço Ademar Guerra, nesta quinta-feira (02), às 20h.

A temporada segue até o dia 19 de novembro, com sessões de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 19h. Os ingressos são gratuitos. Com dramaturgia de Ymoirá Micall, que também assina a direção da peça, o novo trabalho da Cia Sacana de Teatro e Dança é uma distopia. A obra está situada no mesmo universo do experimento cênico Distrito T – cap. 1, premiado em 2022 pelo 30º Festival Mix Brasil na categoria Dramática.

Na trama de Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica, o público conhece a história da Santa Profana. Após ganhar este título da população do Distrito PS, a protetora vive sua ressurreição ao mesmo tempo em que deve se defender dos ataques iniciados por seguidores de um Rei Colônia.

Dessa forma, o público é convidado a adentrar aos limites do Distrito PS, bem quando a Santa Profana decide ser livre. No entanto, essa atitude fragiliza o círculo de proteção local, deixando os moradores em estado de alerta. Ao mesmo tempo, uma refugiada precisa ganhar a confiança dessa entidade para se manter viva.

A peça fica em cartaz até 19 de novembro, com entrada gratuita/ Foto: Marcela Guimarães

Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica desmistifica qualquer impossibilidade de afeto sobre a população trans e travesti e busca se afastar de uma binariedade intrínseca à sociedade. “Precisamos levantar uma peça para reafirmar o nosso direito a permanecer vivas em condições qualificadas. Afinal, se temos a oportunidade de escrever e atuar nas nossas próprias peças, sobre o que estamos escrevendo? Eu tenho o direito de publicar algo que parte do pressuposto da imagem, do que é ser uma travesti na sociedade hoje e do que se desenha para ela. Até porque, as travestis são subjugadas, né?”, comenta a dramaturga e diretora.

Na ativa desde 2020, a Cia Sacana tem a missão de produzir conteúdo em múltiplas linguagens para garantir o acesso de artistas negros e LGBTQIAP+ a qualquer espaço artístico e educacional. “Queremos pensar em um novo teatro, que realmente nos represente. Por isso, criei um mundo paralelo, uma fantasia brasileira em que existem essas pessoas que são imagens totalmente distorcidas na sociedade, inclusive uma santa trans, mas que lideram ideias transformadoras”, conta Ymoirá.

Sobre a encenação
O lado imagético foi fundamental para o trabalho. Muito da moda e do design foi incorporado à encenação, quase como um manifesto. O figurino, assinado por Kyra Reis, mas cuja criação é coletiva, remete ao movimento Ballroom e utiliza peças em upclycling, ou seja, reaproveitadas, transmitindo a ideia de transmutação têxtil. Da mesma maneira que o cenário, pensado por Mauro Pucci.

A Cia Sacana optou por esse caminho do reaproveitamento também para adicionar outra dimensão à história. Os personagens presentes no texto têm o hábito de se ajudar como podem, mesmo nas situações mais adversas, quando tudo parece destruído.

A montagem imersiva ocupa o Espaço Ademar Guerra de um jeito único. Nas primeiras cenas, os espectadores transitam pelo lugar, conhecendo o distrito que compõe esta distopia. Diferentes elevações e estruturas determinam essas fronteiras. Depois, o público senta-se em arquibancadas que formam um “L”.

De acordo com Ymoirá, muitas das suas referências são musicais e da performance. Para esta peça, nomes como Ventura Profana, Linn da Quebrada e Alice Guél tiveram grande destaque para a dramaturgia, que também está carregada de deboche, uma eficiente maneira de estimular reflexões sobre o cotidiano, segundo a dramaturga. A trilha sonora de Maia Caos passeia por diversos estilos.

Além da parceria com o Centro Cultural São Paulo (CCSP), o grupo contou com a gestão institucional da Associação SÙ de Educação e Cultura. Ambas as instituições foram fundamentais para a estreia.

Sobre a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos
Criado em 2015, o evento tem o objetivo de fomentar a criação dramatúrgica e promover a montagem e a estreia de obras cênicas inéditas de dramaturgues potentes no cenário teatral paulistano, dentro da programação do CCSP, segundo o conceito de “pequenos formatos cênicos”.

Sobre aCia. Sacana De Teatro e Dança

Acompanhia surge em 2020 composta por artistas negros e LGBTQIAP+ residentes da Cidade de São Paulo no movimento de levante para produzir conteúdos de multilinguagem, bem como garantir acesso a qualquer espaço artístico e educacional. O grupo independente transforma suas experiências artísticas em base científica, valorizando suas histórias como conteúdo precioso para as narrativas levantadas em cada obra. Entre os trabalhos de destaque estão: “Pindaúna” peça contemplada no ano de 2020 pelo Edital de Apoio à Cultura Negra – 1ª Edição, o solo coreográfico “UMA” (2021) encenado na Sala Adoniran Barbosa (Centro Cultural São Paulo), Teatro Cacilda Becker (Complexo Funarte – RJ), MITsp 2022 – Teatro Oficina, 2ª Virada AfroCultural, Sala Reneè Gumiel (Complexo Funarte – SP) e Palacete das Rosas (Araraquara), o filme-dança “Estou aqui, mas Talvez não esteja”, gravado na Oficina Cultural Oswald de Andrade no ano de 2021 contemplado pelo edital PROAC nº 04/2020 “Registro e licenciamento de espetáculos de dança inéditos para difusão online (#CulturaEmCasa) y o experimento cênico “Distrito T – cap. 1” premiada em 2022 pelo 30º Festival Mix Brasil na categoria Dramática.

Sinopse
Um programa de rádio anuncia a “hora da história”. Na ocasião, a Cantora Careca, locutora da atração, narra em detalhes a passagem da Santa Profana, figura icônica deste conto distópico. Após ser proclamada Santa pela população do Distrito PS, a protetora vive sua ressurreição ao mesmo tempo em que deve se defender dos ataques iniciados por seguidores de um Rei Colônia.

Ficha Técnica

Direção e Dramaturgia: Ymoirá Micall

Direção de produção: Carmen Mawu Lima
Direção de arte e Design: Mauro Pucci

Direção de movimento: PHVerissima
Trilha Sonora e operação: Maia Caos
Desenho e operação de luz: Verena Teixeira
Elenco: Kyra Reis, Ayo Kalunga, Kaiala de Oliveira, Leonora Braz, Alice Guél, Wini Lipe, Zara Dobura, Kairu Kiango, Venâncio Cruz, Tata Nzinga, Nu Abe
Assistente de arte e diagramação: Luccas Caetano

Assistente de som: Ewe Pixain
Assistente de produção: Jota Guerreiro

Gestão Institucional: Associação SÙ de Educação e Cultura

SERVIÇO
Terra Brasilis Top Trans Pindorâmica
De 2 a 19 de novembro, com sessões quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 19h
Local: Espaço Cênico Ademar Guerra – Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Endereço: Rua Vergueiro, 1000 – Liberdade, São Paulo/ SP
Ingressos: gratuitos | Retirar na bilheteria com 1 hora de antecedência
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos

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