O episódio chocante de violência policial na Zona Sul de São Paulo continua a gerar indignação e debates sobre a segurança pública no Brasil. Marcelo, um jovem de 25 anos, entregador e sem histórico criminal, foi jogado de uma ponte por policiais militares durante uma abordagem na região da Vila Clara, Cidade Ademar. O caso foi registrado no último domingo (1º) e já levou ao afastamento de 13 policiais envolvidos.
“Meu filho é trabalhador, um menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, não tem passagem. Eu gostaria de uma explicação desse policial e o porquê ele fez isso”, desabafou Antônio Donizete do Amaral, pai de Marcelo, ao ser entrevistado. Visivelmente abalado, ele destacou a confiança que a população deveria poder depositar na polícia: “Eles estão aí para proteger, não para fazer o que fizeram”.
Segundo relatos de testemunhas, os policiais estavam no local para dispersar um baile funk quando abordaram dois jovens em uma motocicleta. A moto caiu, e Marcelo, ao tentar escapar, foi jogado no córrego por um dos agentes. O impacto deixou ferimentos no rosto do jovem, que foi resgatado por moradores de rua que estavam sob a ponte e levado ao hospital. Ele já está em casa, mas segue em recuperação física e emocional.
Uma testemunha, que preferiu não se identificar, descreveu o momento da abordagem:
“Tinham dois policiais da Rocam parados ali com cacetete na mão esperando. Quando o menino veio da avenida e caiu com a moto, eles foram para cima. Foi assustador. Eu e minha amiga saímos correndo”.
LEIA TAMBÉM: Policial que executou homem negro com tiro pelas costas em SP é afastado da PM
Repercussão e medidas
As imagens da ação, gravadas pelas câmeras corporais dos policiais, estão sendo analisadas pela Corregedoria da Polícia Militar, que abriu um inquérito para investigar o caso. O Secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, gravou um vídeo repudiando a conduta dos agentes e reforçou a necessidade de punição exemplar: “Essa ação não tem respaldo nos procedimentos operacionais da polícia. Não podemos permitir que atitudes isoladas denigram uma instituição com quase 200 anos de serviço à sociedade”.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também criticou a ação. Em suas redes sociais, afirmou que “quem joga uma pessoa de uma ponte não está à altura de usar a farda” e prometeu uma investigação rigorosa.
O Procurador-Geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, classificou as cenas como “estarrecedoras e inadmissíveis”, determinando que o Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública (GAESP) acompanhe o caso para garantir punições exemplares.
Violência policial em números
O caso reacende o debate sobre violência policial no Brasil, especialmente contra jovens periféricos e negros. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2022, mais de 6 mil pessoas foram mortas em intervenções policiais no país, sendo a maioria delas homens jovens, negros e moradores de áreas vulneráveis.
Organizações de direitos humanos e especialistas têm reforçado a necessidade de reformas estruturais nas forças de segurança e de maior investimento em políticas que previnam o uso abusivo da força.
Busca por justiça
Enquanto Marcelo se recupera, sua família e a comunidade aguardam respostas. A sociedade civil cobra não apenas a responsabilização dos envolvidos, mas também mudanças que impeçam que episódios como esse se repitam. “Não é a polícia que queremos”, disse Cláudio Silva, Ouvidor das Polícias de São Paulo, ao afirmar que os policiais envolvidos agiram como se estivessem acima da lei.