Para o professor Graham Denyer Willis, do Departamento de Política e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge (POLIS), a megaoperação que matou 121 pessoas no Rio de Janeiro na última terça-feira (28) teve um caráter político e performático, e serviu para projetar a imagem do governador no cenário nacional. “Foi uma performance pública de Castro para preencher o vazio na política de direita e se colocar como liderança nacional”, afirmou em entrevista à BBC News Brasil.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), comemorou publicamente o resultado da megaoperação policial que deixou ao menos 121 mortos e 113 presos nos complexos da Penha e do Alemão, na capital fluminense. “O Rio de Janeiro termina o dia com uma imagem que fala por si: mais de 100 fuzis apreendidos pelas Polícias Civil e Militar”, escreveu Castro nas redes sociais.

A operação tinha como alvo, segundo o Governo do Estado, o Comando Vermelho (CV) e foi classificada pelo próprio governador como “um duro golpe contra a criminalidade”. Em pronunciamento no dia seguinte, Castro afirmou que a ação “extrapola a segurança pública” e que, se fosse necessário “exceder as competências” do estado para proteger a população, ele o faria novamente.
Autor do livro The Killing Consensus: Police, Organized Crime, and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil, Willis é um dos principais estudiosos da relação entre violência estatal e poder político no país. Segundo ele, a operação “não teve nada de novo no tráfico de drogas nem nas ações policiais”, mas foi conduzida como um espetáculo: “O desfile de armas e corpos mostrou que o sucesso foi medido pelo número de mortos. Foi uma tentativa deliberada de criar uma plataforma política baseada na política dos cadáveres.”
O professor também destacou que a ação e os discursos de Castro buscam ocupar o espaço deixado pela extrema direita após o declínio do bolsonarismo, reproduzindo expressões usadas por líderes como Donald Trump e Nayib Bukele, de El Salvador. “Ao falar em narcoterrorismo e guerra, ele tenta se aproximar desse discurso global da direita autoritária”, disse.
Organizações de direitos humanos classificaram a operação como chacina, e o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos declarou estar “horrorizado” com o número de vítimas.
Questionado sobre as críticas, Castro respondeu: “Sou governador deste estado e não vou responder a ninguém que queira transformar isso numa batalha política. Quem quiser somar, é bem-vindo. Quem quiser fazer politicagem, suma.”
Para Denyer Willis, a postura do governador reforça um ciclo histórico: “A política da violência pela violência falha há mais de 200 anos. Ela não resolve o crime organizado, mas serve para construir poder.”










