Lima Barreto teve uma trajetória marcada pela perspicácia e pela inovação, sendo um escritor que dava voz às camadas mais populares do Rio de Janeiro, justamente por estar muito próximo delas, mas também possui uma história marcada pelo racismo e pela exclusão.
Em “Noite e Dia: Lima Barreto, Obra & Vida”, filme inédito e exclusivo do Curta!, a trajetória do autor é apresentada através de depoimentos de especialistas e de performances teatrais, a partir da narração de trechos de sua obra. O filme será exibido nesta quinta-feira (01), às 21h30.
“Lima Barreto é daqueles autores em que as pessoas, em que os críticos faziam uma sobreposição da sua biografia com a sua literatura. É claro que a gente encontra ali referências às dificuldades, aos anseios e às questões que moviam Lima Barreto na sua obra, mas […] reduzir a obra de Lima Barreto a isso me parece que não é acertado”, analisa André Dias, professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Baseada nessa premissa de que a produção literária de Lima Barreto não deve ser reduzida aos dissabores de sua trajetória — e de que, no entanto, a qualidade de sua obra é indissociável da experiência do autor —, o documentário, dirigido por Rodrigo Grota, se desenvolve conforme são narradas as vivências de Lima desde sua infância e juventude.
Atores interpretam passagens da vida do autor e momentos de sua obra: Luan Valero dá vida a um Lima Barreto mais velho, enquanto Tiago Daniel o interpreta mais jovem. Luli Rodrigues vive Clara dos Anjos, protagonista do romance homônimo; Guilherme Kirchheim vive Policarpo Quaresma, personagem principal de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”; Thainara Pereira interpreta Evangelina de Lima Barreto, irmã do autor; Gustavo Garcia é Cassi Jones, personagem de “Clara dos Anjos”; enquanto Adriano Gouvella é o narrador do mesmo romance.
O documentário conta que, embora sua escrita seja anterior ao movimento modernista, a obra de Lima Barreto — que se dizia um “andarilho por vocação” — é marcada por características da modernidade, tendo aberto as portas para uma literatura que viria com mais força pouco depois. Seus romances, crônicas e contos tinham um olhar panorâmico para o cotidiano da cidade, incorporando novos modos de vida que eram parte de uma urbanização recente e que ainda estava em pleno desenvolvimento à época.
“É como se ele tivesse várias tomadas de ação de contextos, de cenas da cidade. Ora ele parece que quer ouvir a conversa dos transeuntes, […] ora é o movimento, o burburinho…”, explica Carmem Negreiros, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Os especialistas entrevistados ressaltam que Lima Barreto foi uma voz dissonante na literatura do início do século XX. Além de ter rompido com a escrita e os ideais parnasianos — e o eugenismo —, dominantes à época, o autor lança seu olhar para os excluídos da ordem social.
“A gente tem que voltar a ver a força dessa literatura. Uma literatura política, uma literatura preocupada com as minorias, uma literatura antirracista…”, defende Beatriz Resende, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Noite e Dia: Lima Barreto, Obra & Vida” é uma produção da Kinopus viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O filme também pode ser assistido no CurtaOn – Clube de Documentários, streaming disponível no Prime Video Channels — da Amazon —, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma.
Quintas do Pensamento – 01/02
21h30 – “Noite e Dia – Lima Barreto, Obra & Vida” (Documentário) – INÉDITO
A trajetória do escritor, jornalista e cronista carioca Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), uma das figuras centrais da literatura brasileira no século XX, autor de obras como os romances “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1909), “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1911) e “Clara dos Anjos” (1922/1948). Direção: Rodrigo Grota. Duração: 115 min. Classificação: A 12 anos. Horários alternativos: 02 de fevereiro, sexta-feira, às 1h30 e às 15h30; 03 de fevereiro, sábado, às 13h30; 04 de fevereiro, domingo, às 22h.
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