Pela primeira vez na história, há mais crianças e adolescentes obesos do que desnutridos no mundo. O dado foi revelado em relatório divulgado nesta quarta-feira (10) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que analisou informações de mais de 190 países e aponta mudanças profundas nos hábitos alimentares globais.
O levantamento mostra que, desde 2015, a obesidade passou a atingir 9,4% de crianças e jovens entre 5 e 19 anos, ultrapassando os 9,2% que sofrem com desnutrição. Em duas décadas, o número de pessoas nessa faixa etária com excesso de peso dobrou, passando de 194 milhões para 391 milhões.
O Unicef alerta que o avanço da obesidade não elimina o problema da fome, criando um “duplo desafio”: lidar simultaneamente com a má alimentação causada pela carência de nutrientes e com os riscos associados ao consumo excessivo de produtos ultraprocessados.
Segundo o estudo, 81% dos casos de excesso de peso estão concentrados em países de baixa e média renda, onde alimentos industrializados têm preço mais acessível e forte apelo publicitário. No Brasil, por exemplo, o índice de crianças e adolescentes obesos triplicou desde 2000, tendência associada ao aumento do consumo de bebidas açucaradas e comidas ultraprocessadas.
Apesar do avanço da obesidade, o relatório destaca o Brasil como exemplo em políticas públicas de alimentação. Entre as iniciativas reconhecidas estão a rotulagem nutricional de alimentos, a isenção fiscal para produtos in natura e o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que garante refeições mais saudáveis para milhões de estudantes.
O Unicef recomenda ampliar o acesso a alimentos nutritivos, restringir a publicidade voltada a crianças, fortalecer a proteção social e criar políticas que reduzam a influência da indústria de ultraprocessados nos hábitos alimentares.
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