Priscilla Cabral e Fernanda Santoro | Respectivamente, Diretora de Comunicação e Diretora de Gente e Desenvolvimento Institucional do Todos Pela Educação
Nos últimos anos, temos visto as discussões sobre diversidade e inclusão ganharem espaço em diferentes esferas: pública, privada e nas organizações da sociedade civil. Para nós, duas mulheres negras que romperam barreiras e alcançaram posições de liderança, esse movimento é significativo. Mas não podemos ignorar que ainda existe uma resistência silenciosa — e muitas vezes explícita — de grupos que tentam minimizar ou até mesmo desqualificar o debate sobre racismo, tratando-o como uma simples “pauta identitária”. Essa visão distorcida, que ignora a real vivência das desigualdades, só será transformada quando enfrentarmos essas barreiras de forma direta e com ações que não se limitem a datas específicas.
O Novembro Negro é um marco, sim, mas a luta pela equidade racial precisa ser contínua e intencional na agenda de qualquer organização que realmente deseja promover mudanças. É uma questão de comprometimento e posicionamento ao longo de todo o ano.
Ainda somos poucas. Segundo a PNAD Contínua 2023, apenas 2,1% dos cargos de gerência e direção no Brasil são ocupados por mulheres negras. Esse número não apenas evidencia o abismo que ainda enfrentamos, mas também revela o quanto a presença de mulheres negras em posições de liderança ainda desafia estruturas historicamente excludentes. Nós sabemos e temos o chamado ‘lugar de fala’ para afirmar que chegar a esses espaços, enfrentando portas fechadas e barreiras invisíveis, carrega não apenas nossas trajetórias individuais, mas também a responsabilidade de representar tantas outras
que ainda não tiveram a mesma oportunidade.
Quando olhamos para a Educação, fica evidente que a desigualdade no mercado de trabalho começa muito cedo. Os dados mais recentes do Anuário da Educação Básica reforçam como o acesso à cidadania no Brasil ainda é segregado e como isso se reflete na trajetória educacional. Desde a Creche até o Ensino Médio, crianças negras e indígenas enfrentam barreiras que limitam suas oportunidades. Apenas 68% dos jovens pretos e 59% dos indígenas conseguem concluir o Ensino Médio até os 19 anos, enquanto o índice entre brancos é de 78%. Esses dados não são frios, meramente estatísticos: são histórias interrompidas, talentos subaproveitados e trajetórias que muitas vezes não chegam ao seu potencial por falta de oportunidades e de políticas públicas voltadas à Equidade Étnico- Racial na Educação (ERER).
E é exatamente por ter ERER como referência fundamental às nossas recomendações de políticas públicas na Educação que, no Todos Pela Educação, assumimos a responsabilidade de fazer a nossa ‘lição de casa’. Em 2020, apenas 17% das pessoas colaboradoras se autodeclaravam pretas ou pardas, com uma única pessoa negra em posição de liderança. Hoje, como resultado de um trabalho intencional e comprometido com a diversidade, nosso censo interno aponta um avanço significativo: somos 26 de 48 colaboradores, sendo 30% das lideranças e cerca de 60% em outros níveis.
Como já mencionado, números, sozinhos, não resolvem questões estruturais, mas eles mostram o caminho. O que realmente transforma é a coragem de encarar essas desigualdades e o compromisso de agir com intencionalidade. A pauta não pode ser sazonal ou estratégica apenas no discurso. É preciso garantir que ela seja vivida, praticada e mensurada, dia após dia.
Nosso compromisso, como mulheres negras e líderes, é usar nossas vozes e nossas posições para convocar outras lideranças e organizações a fazerem o mesmo. E também sinalizar às nossas pares que estamos juntas, por mais que elas se sintam sozinhas, afinal, nem todas têm a oportunidade que nós temos de ter uma a outra como apoio, motivação e direção em seu dia a dia de trabalho. A equidade racial não é sobre um mês, é sobre a construção de um futuro onde todas as pessoas negras possam prosperar, sem as barreiras que nós enfrentamos até aqui.
Leia também: A Educação antirracista como caminho de Sankofiar: Aprender com o passado para transformar o presente
Educação e Capacitação
Em parceria com o Notícia Preta estão abertas as inscrições para o curso Coletivo Online do Instituto Coca-Cola Brasil (ICCB). A iniciativa direcionada para jovens de 16 a 25 anos que estejam cursando ou já tenham concluído o Ensino Médio, é online, realizada pelo WhatsApp, e é 100% gratuito.
Ao final das aulas, o aluno recebe um certificado e o acesso a vagas exclusivas em mais de 400 empresas parceiras da iniciativa. Para saber mais detalhes e se inscrever, basta acessar o link: https://bit.ly/ColetivoOnlineNoticiaPreta