A escritora e filósofa Djamila Ribeiro comentou, em uma live realizada pela Vogue Brasil com a escritora com Carla Akotirene, sobre os recentes ataques que sofreu associados as suas parcerias comerciais e ao seu relacionamento com um homem branco.
Ao ser questionada sobre o por quê das autoras negras da coleção Feminismos Plurais , coordenada por ela, serem mais atacadas do que os homens da mesma coleção, a filósofa respondeu: “Ficar em grupos para atacar mulher preta, em um país onde a mulher preta está na base da piramide e é a maior vítima de feminicídio, é não ter compromisso nenhum com a questão racial. É muito mais fácil bater na mulher preta. Quando batem na gente eles ganham visibilidade. Quando nos atacam (mulheres pretas) eles já perceberam que ganham seguidores, eles se unem por esse ódio as mulheres negras. Não atacam da mesma forma os autores negros do Feminismos Purais“, declarou a escritora.
Sobre as críticas por não divulgar gratuitamente a versão PDF de suas obras, Djamila foi direta: “Não estou aqui num concurso de popularidade, não estou aqui pra gostarem de mim, mas tem que me respeitar, respeitar trabalho que está sendo feito. As pessoas acham que somos uma empresa milionária, essa é a unica fakenews que eu lamento não ser verdade (risos). Ninguém vai passar PDF do livro do Chico Buarque só porque ele é rico, e criaram isso que eu sou rica para dizer que eu oprimo mulheres pobres porque não quero que passem PDF. E se eu fosse rica? Mas não sou. Não pode se aplicar a mesma régua pra uma pequena empresa do que pra uma grande editora. Passar PDF significa que os autores negros não ganharão o dinheiro deles. As pessoas criam uma narrativa absurda. Mas quem não tem dinheiro pra comprar livro? Vai bater no sistema. As pessoas não tem noção de como o mercado funciona e ficam passando como se eu fosse a Amazon”.
Djamila, que é uma das escritoras mais lidas do Brasil, também falou sobre as críticas em relação ao seu relacionamento com o advogado Brenno Tardelli, um homem branco: “É importante discutir o amor negro, mas isso não quer dizer que todas as pessoas não podem se apaixonar por pessoas de outro grupo social. Meu companheiro é incrível, me apoia em tudo. Eu não vou abrir mão de mostrar quem eu amo. Amor preto é o que você deixa de legado. Amor preto é o que a gente faz pela nossa comunidade negra. Amor preto é eu fazer uma escolha de publicar pessoas pretas, amor preto é o que você faz pela sua comunidade. Não é colocar uma foto com a hashtag ‘blacklove’ e ficar atacando gente preta na internet. Não podemos cair nesse discurso raso”, contou a escritora.
“Nem todo mundo é descendente de quilombola , tem gente que é descendente de feitor. Ser negro não é só tonalidade da pele, ser negro é um sentido político”
A filósofa disse ainda ser vítima de misoginia quando as pessoas reduzem sua existência ao seus relacionamentos. Ela ainda acrescentou que homens não enfrentam a mesma coisa.
“Sempre fui uma mulher muito independente. Fui casada 13 anos com o pai da minha filha, que é um homem negro. Perguntavam para meu ex-marido ‘como você permite que ela seja desse jeito?’. Pessoas que falam isso precisam se rever, não há nada mais colonial do que achincalhar mulher preta. E os homens pretos que fazem isso estão a serviço da lógica branca colonial que eles dizem tanto ser contra”, disse Djamila.
Sem citar nomes, a escritora comentou sobre um dos recentes ataques que sofreu de uma mulher que a acusou de não ser parceira dos trabalhadores: “Nem todo mundo é descendente de quilombola , tem gente que é descendente de feitor. Ser negro não é só tonalidade da pele, ser negro é um sentido político. Jamais vou atacar uma mulher negra quando se tem Bolsonaro no poder. Eu reconheço a negritude de todas as pessoas, mas vou apontar apontar sim aquelas que atacam mulheres negras retintas. Eu não vou beijar a mão de feitor que me açoita. Se quer me destruir, eu estou aqui fazendo meu trabalho honestamente, volta 20 casas e vai bater cabeça pro santo, porque está fazendo tudo errado”, disparou Djamila.