Mulheres ocupam 60% das moradias precárias no Brasil, afirma estudo

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Rio de Janeiro - Comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, após confrontos de grupos de traficantes rivais pelo controle de pontos de venda de drogas. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil).

Dados da Fundação João Pinheiro (FIP) apontam que o déficit habitacional brasileiro também é uma questão de gênero, que acomete principalmente as mulheres negras e periféricas. O levantamento revela que em 2021, 15 milhões de moradias inadequadas são ocupadas por mulheres, número que representa 60% dos do total no Brasil.

Rio de Janeiro – Comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, após confrontos de grupos de traficantes rivais pelo controle de pontos de venda de drogas. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil).

Para Raquel Ludermir, doutora em Desenvolvimento Urbano, coordenadora nacional de incidência política da ONG Habitat para a Humanidade Brasil, essas dimensões muitas vezes são invisibilizadas nas estimativas e médias nacionais. “É justamente esse o perfil mais afetado quando se fala, por exemplo, em quem precisa escolher entre comer ou pagar aluguel (ônus excessivo com aluguel), quem mora de favor na casa de amigos ou parentes por não ter alternativa (coabitação involuntária), ou quem precisa carregar baldes d’água na cabeça para necessidades básicas, como cozinhar e lavar roupa (carências de infraestruturas).”, salienta.

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Raquel também ressalta que habitação adequada é a porta de entrada para uma série de direitos. “Olhar para o problema da moradia na perspectiva de gênero ajuda a entender que as condições de moradia das mulheres tendem a ser ainda mais precárias do que a média, e que isso tem repercussões na saúde, educação e bem estar das mulheres”.

Outro fator destacado pelos dados da FIP tem relação direta com o que aponta a Organização Mundial da Saúde: Uma em cada três mulheres no mundo sofre violência doméstica. No Brasil, cerca de 80% dos casos conhecidos de violência contra a mulher são exercidos por parceiro íntimo, atual ou passado, e por parentes, como pais, irmãos, filhos, tios e sogros. Além disso, casos de violência são rotineiros na vida das mulheres: 43% reportam sofrer violência diariamente e 35% semanalmente, de acordo com o Dossiê da Agência Patrícia Galvão. “Infelizmente, ainda existem muitas mulheres que precisam tolerar esse tipo de violência por não ter para onde ir. A falta de alternativa de moradia não é a única, mas, certamente, é uma importante questão que influencia a decisão das mulheres que pretendem terminar relacionamentos abusivos. Muitas fogem de casa depois de episódios de violência aguda e buscam abrigo na casa de parentes, mas terminam voltando quando já não são mais bem- vindas onde conseguiram abrigo temporário, ou quando as coisas se acalmam.”, pondera Raquel Ludemir.

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