“Não gosto de olhar”, diz mulher que teve mão amputada no Rio de Janeiro

Violencia-Obstetrica-1-768x504-1.jpg

Uma mulher de 24 anos teve a mão esquerda amputada logo após dar à luz ao seu terceiro filho, no Hospital da Mulher Intermédica Jacarepaguá, zona Oeste do Rio de Janeiro. O caso aconteceu em outubro e a paciente ainda não foi informada ao certo o porquê da amputação.

A vítima passou por complicações durante o parto e precisou passar por um procedimento para reduzir os danos. Ela afirma que traumatizou depois do ocorrido. “Tem um mês que tive coragem de olhar para o meu braço sem mão. Não gosto de olhar. Ainda não me aceito nessa nova versão. Também não saio de casa, tenho vergonha que olhem pra mim. Acho que está todo mundo me olhando”, lamenta.

A mulher sofreu várias intervenções sem sucesso – Foto: Istock

Segundo a família da jovem, o procedimento não teve sucesso e agravou a situação. Relatos afirmam que a mão esquerda da paciente começou a apresentar inchaço acompanhado de hematomas com coloração roxa.

A família afirma, ainda, que a equipe colocou uma bolsa térmica de gel sobre o membro afetado, mas que o método causou queimaduras na mão da paciente, o que a fez ser encaminhada para o Hospital da Mulher Gonçalense, que fica há 90 km do local.

Sem explicações para a família ou para a própria paciente, a mão esquerda da jovem foi amputada. Após a operação, ela permaneceu no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da rede hospitalar. A vítima relata angústia pela condição tê-la impedido de vivenciar os primeiros dias de seu filho mais novo.

LEIA TAMBÉM: Pesquisa FGV: 84% dos crimes raciais de SP são registrados como injúria racial e não racismo

Um mês e meio depois, a mulher teve uma nova hemorragia. Dessa vez, “disseram que ela teria que se submeter a uma nova cirurgia, pois esqueceram alguma coisa dentro dela”, afirmou a mãe da jovem.

Os médicos não souberam responder que tipo de material havia sido esquecido dentro da paciente. Na cirurgia, então, ela passou por outro procedimento e teve alta depois de dois dias em observação. O procedimento consiste na raspagem do útero e ocorre de maneira menos invasiva ao tecido do órgão.

O caso foi registrado, na Polícia Civil, como lesão corporal culposa – quando o crime é efetuado de sem intenção. A família entrou com uma ação na Justiça e a advogada da vítima, Monalisa Gagno, afirmou que o inquérito contra a unidade de saúde já foi aberto e as investigações serão iniciadas.

LEIA TAMBÉM: Distrito Federal registra primeiro caso de racismo após nova lei

“Vamos pedir as reparações de que têm a responsabilidade civil: dano estético, dano moral e material. E vamos fazer um levantamento da parte da imprudência, negligência e imperícia, que é a parte criminal”, disse a advogada.

O que diz o hospital

Em nota enviada à redação do NP, o hospital disse que está solidário à vítima e lamenta o ocorrido. “Reitera o empenho em apurar com toda seriedade, transparência e atenção os procedimentos médicos e hospitalares adotados durante seu atendimento. Para tanto, solicitou ao Comitê de Ética Médico a coordenação desses trabalhos”, afirma a nota.

“Independente de tal apuração, o hospital vem mantendo contato com a paciente e seus representantes para prestar todo acolhimento possível e atender suas necessidades, assim como se mantem à disposição para que todos os esclarecimentos necessários sejam realizados”, conclui.

Deixe uma resposta

scroll to top