Morre Marlene Silva, uma das referências em dança afro de Minas Gerais

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Marlene Silva era uma das referências em dança afro de Minas Gerais – Foto: Igor Rocha/Noticia Preta

Morreu na última segunda-feira (13), aos 83 anos, a coreógrafa e precursora da dança afro em Minas, Marlene Silva. Segundo informações médicas, ela foi vítima de um infarto em sua casa, no Rio de Janeiro. Mineira nascida no bairro Concórdia, região noroeste de Belo Horizonte, Marlene estava empolgada com os novos projetos que teriam início ainda esse ano.

Fábio Boaventura, assessor de comunicação da artista em BH, comenta que conversou com ela na última sexta por telefone. “Ela estava muito bem, cheia de planos e novas ideias para a sua carreira. Estávamos preparando um workshop itinerante que passaria pelas principais cidades do país”, diz.

Fábio lembra das várias histórias que tinha com Marlene e se diz grato por ter convivido com uma pessoa justa e do bem como ela sempre foi. “Ela era mais que uma colega de trabalho, era minha amiga, tínhamos uma ligação muito forte. Eu aprendi muito com ela todo esse tempo não só pelo lado profissional, mas o pessoal também. Várias vezes nos atrasamos para algum compromisso, porque ela sempre queria dar atenção as pessoas onde quer que estivesse”, Lembra

Fábio Boaventura e Marlene Silva – Foto: Arquivo Pessoal / Fábio Boaventura

Ainda segundo ele, uma situação que deixava Marlene muito triste era não conseguir ajudar uma pessoa que precisasse. “Ela não media esforços para ajudar quem estava precisando, fazia tudo que estivesse ao alcance dela”, afirmou.

História

Pesquisadora, coreógrafa e professora, Marlene Silva se mudou para o Rio de Janeiro na infância, onde foi matriculada na aula de balé clássico e foi recebida pelo preconceito. Era a única negra da sala e foi ignorada pela professora desde o início. Percebendo toda aquela discriminação a mãe a tirou das aulas.

Depois de assistir um espetáculo de Mercedes Baptista, aos 21 anos, ela encontrou a sua vocação e aprofundou os seus estudos na dança afro. Em 1974, ela voltou para Belo Horizonte e começou a dar aulas. Dois anos depois, foi convidada para coreografar Zezé Mota e o Walmor Chagas, no filme Xica da Silva de, Cacá Diegues.

Nos anos 80, a artista conseguiu abrir a sua própria e escola dedicada a dança afro em um bairro da capital mineira. Em entrevista ao Jornal Estado de Minas, em 2018, Marlene contou um dos casos de racismo vivido em Belo Horizonte, por conta do espetáculo Raízes da Nossa Terra. “Tinha um projeto com a Belotur de apresentar nas periferias, ir lá mostrar o nosso trabalho. Mas muita gente ria, apontava e nos chamava de macacos. Inclusive, macaco eram as coisas mais leves que eu ouvia”, comentou. Ela relatou que não podia se abater e que lutou muito para a cultura afro ser reconhecida.

Foto: Fábio Boaventura

Homenagens

Em 2016 ela foi uma das homenageadas do VII Prêmio Zumbi de Cultura, Recebeu homenagem também ao longo da sua carreira da Mostra Benjamin de Oliveira, Ministério dos Direitos Humanos. Recebeu também a Comenda do Mérito Artístico do Conselho Brasileiro de Dança e do Conselho Internacional de Dança.

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