A primeira juíza negra do país, Mary Aguiar, faleceu na noite da última terça-feira (23/2), aos 95 anos. A informação foi dada pelo desembargador Lidivaldo Britto, na sessão plenária do TJBA dessa quarta-feira (24). A magistrada estava internada no Hospital da Bahia.
Nascida em 1925, em Salvador, Mary de Aguiar Silva é filha de um motorista de táxi e uma dona de casa. Apesar das dificuldades financeiras, a família valorizava os estudos, e Mary se formou em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1952. Dois anos mais tarde, em 1954, Mary começou a atuar como promotora. A carreira de juíza teve início em 1962 em Remanso, às margens do Rio São Francisco, a 716 km de Salvador.
Ao contrário do que foi divulgado, Luislinda Valois, desembargadora aposentada e ex-ministra dos Direitos Humanos do governo de Michel Temer, não foi a primeira juíza negra do seu estado.
Luislinda Valois começou sua carreira na magistratura em 1984, portanto, 22 anos depois da nomeação de Mary. Em 2010, o Tribunal de Justiça da Bahia fez uma sessão solene para homenagear as magistradas negras do Estado. Mary foi listada como primeira e Luislinda ficou na terceira posição. Alexandrina Almeida Santos, falecida em 2009, ocupou a função ainda em 1967 se tornando a segunda juíza negra da Bahia.
Mary não tem filhos. Suas principais companhias eram a mãe, Guiomar, e a irmã, Vera. Depois da morte da mãe e da irmã, passou a morar com a sobrinha Sheila Aguiar.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Sheila disse que Mary encontrou dificuldades para exercer seu trabalho, nem tanto por ser negra – a Bahia tem a maior população negra do país –, mas muito por ser mulher em um espaço de poder predominantemente masculino. “Era uma época em que os coronéis comandavam a região“, afirmou a sobrinha.
De toda forma, as dificuldades raciais e de gênero que Mary enfrentou não devem ser ignoradas. Segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dos mais de 17.600 magistrados em atividade no Brasil em 2018, apenas 37% são mulheres. Juízes e juízas negros e pardos representavam, em 2013 apenas 15% dos magistrados brasileiros – apenas 1,4% do total se declarava preto e 14% se declaravam pardos.
Fonte: Wikipedia