Segundo o levantamento Demografia Médica do Brasil, publicado em 2020 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo (USP), apenas 3,4% dos concluintes de medicina em 2019 se autodeclararam da cor ou raça preta, 24,3% se declararam pardos e 67,1% se declararam brancos. Esta profissão de maioria branca é a que recebe os melhores salários no Brasil, segundo dados apresentados nesta semana pela economista Janaína Feijó, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE)
Segundo a pesquisa, os profissionais mais bem pagos do Brasil são os médicos especialistas, com o salário de R$ 18,4 mil. O alto salário desta categoria, entretanto, sofreu queda média de 13% desde 2012.
Mesmo ainda sendo minoria nos cursos de medicina no país, dados recentes do estudo apontam um leve aumento no número de estudantes negros em comparação a períodos anteriores. Em 2019, o percentual chegou a 27,7%, segundo o levantamento, enquanto em 2016, o índice era de 26,1% e, em 2013, de 23,6%.
Sérgio Batista, de 34 anos, cursa o 6º período de medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF) e, apesar de estudar a profissão que paga melhor no país, ele sabe dos desafios de ser um homem negro e periférico neste lugar:
“A própria ideia de se imaginar nesse lugar é difícil quando somos atendidos durante toda uma vida exclusivamente por médicos brancos, para além do fato de não termos médicos em nosso círculo social. Eu, por exemplo, fui me atentar para essa possibilidade depois dos 30 anos e iniciei o curso de medicina aos 31. Ao mesmo tempo, acredito que talvez seja um pouco diferente para algumas pessoas pretas da nova geração, essa geração que alcançou o ensino médio após políticas de cotas e já puderam imaginar novos mundos. Mas, ainda assim, somos poucos a conseguir alcançar esse espaço” diz o futuro médico.
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Sérgio sabe muito bem que entrar na universidade é apenas uma das tantas outras barreiras que pessoas como ele enfrenta. “Manter-se também é uma tarefa árdua num curso integral com alta demanda de dedicação. Vale ressaltar que as universidades não estão preparadas para as especificidades dos alunos negros da medicina, que são outras. Não há auxílio permanência que cubra os gastos de jovens que já são estruturalmente prejudicados financeiramente. Estar diariamente, de 8 às 18h, na universidade, no hospital universitário ou em outra unidade de saúde, e ainda ter que estudar em casa, se dedicar aos finais de semana, se torna mais puxado quando você ainda tem que colocar algum bico no tempo livre ou mesmo matar aula para trabalhar, afinal o aluguel está batendo e auxílio permanência é de um valor irrisório perto dos gastos de uma grande metrópole. E vale ressaltar que essas bolsas não alcançam todos os alunos que precisam, e eu sou um deles“, explica o estudante.
Top 5 das profissões com melhor remuneração
Médicos especialistas; matemáticos, atuários e estatísticos; médicos gerais; geólogos e geofísicos; engenheiros mecânicos, ocupam o top 5 dos profissionais que apresentam os maiores rendimentos no segundo trimestre de 2023.
A pesquisa reúne um levantamento de 126 profissões listadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisando trabalhadores do setor privado e com ensino superior que possuem salário acima do rendimento médio no Brasil — de R$ 2.836 —, tendo como base o comparativo do segundo trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2023.
Apenas quatro profissões tiveram valorização salarial no comparativo de 2012, aumento médio que varia de 30% a 90%, quase todas que passaram a pagar mais são da área de Tecnologia da Informação (Ti). Matemáticos, atuários e estatísticos, por exemplo, somaram 50% de alta.
Além disso, algumas profissões também tiveram queda no salário médio. Engenheiros químicos, engenheiros civis e economistas, por exemplo, tiveram redução de 52%, 41% e 39%, respectivamente.
Algumas das profissões mais bem pagas e variação salarial:
Médicos especialista — salário médio: R$ 18.475 — (-13%)
Matemáticos, atuários e estatísticos — salário médio: R$ 16.568 — (+50%)
Médicos gerais — salário médio: R$ 11.022 — (-37%)
Geólogos e geofísicos — salário médio: R$ 10.011 — (-20%)
Engenheiros mecânicos — salário médio: R$ 9.881 — (-7%)