Um levantamento realizado entre 2022 e 2024 pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e o Instituto Conviva revelou o que comunidades amazônicas denunciam há décadas: a mineração ilegal na Amazônia está ligada a redes de trabalho escravo, exploração sexual e tráfico humano em garimpos. O estudo, intitulado Mapeamento dos Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia, analisou documentos oficiais e realizou entrevistas em campo nos estados do Amazonas, Pará, Roraima e Rondônia.
O relatório identificou que pelo menos 309 pessoas foram vítimas de tráfico humano em áreas de garimpo em Roraima, sendo 227 migrantes e 82 brasileiras. A maioria das vítimas eram mulheres, muitas delas indígenas ou em situação de vulnerabilidade exploradas sexualmente em regiões de mineração. Crianças, homens e pessoas LGBTQIA+ também aparecem nas estatísticas.

DA MINERAÇÃO ILEGAL NA AMAZÔNIA
Além da violência sexual, o estudo aponta que condições de trabalho análogas à escravidão seguem ocorrendo com frequência. Uma operação do Ministério do Trabalho, em janeiro de 2024, resgatou trabalhadores em situação degradante em um garimpo em Maués (AM). Os auditores encontraram jornadas exaustivas, ausência de direitos básicos e uso de substâncias tóxicas, como o cianeto.
As doenças mais recorrentes entre garimpeiros incluem gota, malária, tuberculose, pneumonia e bronquite. A expectativa de vida nesses locais é de apenas 55 anos, duas décadas a menos que a média nacional. Entre as principais causas de morte, estão afogamentos, soterramentos, ataques de animais, picadas de cobras e aracnídeos, reflexo da completa ausência de segurança no ambiente de trabalho.
O mapeamento também denuncia o avanço de facções criminosas em áreas de garimpo, o que deu origem ao termo “narcogarimpo”. Segundo os pesquisadores, rotas fluviais e aéreas entre Colômbia, Venezuela e Brasil são usadas para escoar ouro, drogas, armas e pessoas. A presença de autoridades locais coniventes com esses crimes também é mencionada no estudo.
A publicação ainda lembra que dois decretos federais, editados em 2022, contribuíram para a normalização da mineração predatória, mesmo após terem sido revogados em 2023. Especialistas apontam que essas políticas criaram terreno fértil para o aliciamento e a exploração de comunidades inteiras.
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