Entre janeiro e outubro de 2025 cerca de 2 milhões de famílias brasileiras deixaram de receber o Bolsa Família por conta da melhora em suas condições de vida. Os dados são da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Do total, 1,3 milhão de famílias saíram do programa por aumento da renda domiciliar; 726 mil concluíram o período previsto pela Regra de Proteção, que garante o pagamento de metade do benefício por até 12 meses após o aumento da renda; e outras 24,7 mil famílias optaram pelo desligamento voluntário.
O ministro Wellington Dias destacou que o resultado demonstra o papel do Bolsa Família como instrumento de transformação social. “O programa tem cumprido seu papel de melhorar a vida das pessoas mais pobres de maneira segura e sustentável. Quem entra no Bolsa Família só sai para cima — seja porque conquistou renda maior com trabalho, seja porque abriu o próprio negócio”, afirmou.

Um dos exemplos de superação é o da sergipana Carla Pereira Barros, de 39 anos, que se tornou a primeira da família a concluir o ensino superior. Beneficiária do programa por 14 anos, Carla devolveu o cartão do Bolsa Família após conquistar emprego como professora. “Foi uma alegria imensa ter participado do programa e fiquei mais alegre ainda quando pude devolver o cartão. Fui pensando nas outras pessoas que poderiam estar precisando”, contou.
Moradora de Aracaju (SE), Carla enfrentou pobreza extrema e violência doméstica antes de ingressar no programa em 2010. Com o incentivo das servidoras do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), cursou pedagogia na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e hoje se prepara para sua segunda graduação, em Libras.
Recorte racial: mulheres negras são maioria entre as beneficiárias do bolsa família
Segundo dados do próprio Cadastro Único (CadÚnico), cerca de 72% das pessoas inscritas no Bolsa Família se autodeclaram pretas ou pardas, e a maioria dos lares chefiados por mulheres beneficiárias tem mulheres negras como responsáveis. Esses números reforçam o papel estrutural do programa na redução das desigualdades raciais e de gênero, especialmente em um país onde o racismo histórico limita o acesso da população negra ao emprego formal e à renda.
Para a secretária nacional de Renda de Cidadania, Eliane Aquino, o Bolsa Família é “muito mais do que uma transferência de renda”.
“Queremos cada vez mais que o programa permita que as pessoas mais vulneráveis possam acessar outras políticas públicas, que elevem a escolaridade, a qualificação profissional e a empregabilidade, garantindo maior proteção social e qualidade de vida”, afirmou.
Com foco na inclusão produtiva e na autonomia financeira das famílias, o Bolsa Família se mantém como uma política de Estado que combina transferência de renda, estímulo à escolarização, vacinação e acesso a políticas complementares. Desde sua criação, o programa já foi responsável por tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza, e segue sendo essencial para reduzir as desigualdades regionais e raciais que ainda marcam o país.
Atualmente, o Bolsa Família atende 18,9 milhões de famílias em todo o país, o menor número desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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