Proposta do projeto é reduzir violência no ambiente escolar, mas adolescentes tem sido agredidos fisicamente e psicologicamente por policiais militares.
Imagina achar que seu filho está na escola, em segurança, se desenvolvendo e descobrir que na verdade ele está sendo agredido e humilhado por autoridades que deveriam protegê-lo e ensina-lô. Essa foi a realidade encarada por mães de alguns alunos da Escola Estadual Professor Juracy Batista Gomes, em Manaus (AM).
Elas descobriram que os filhos estavam sendo obrigados a passar mais de três horas sentados no chão da quadra, debaixo do sol, em uma tarde que fazia mais de 30º graus, enquanto eram xingados e ameaçados por polícias militares.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a mãe de um dos adolescentes, Joice, relatou as agressões que o filho dela e os colegas sofreram: “Quando tiver rebelião, é assim que vão tratar vocês”, teria dito um dos policiais, obrigando os meninos a encostarem o rosto no chão. O filho de Joice foi agredido com um chute no tornozelo, e após a lesão não pôde participar de uma competição esportiva.
O episódio de violência contra os adolescentes teve seu auge na última quinta-feira (25), quando os jovens foram mantidos durantes mais de três horas no sol, alguns adolescentes passaram mal. De acordo com Joice, os militares caminhavam ao redor dos jovens, proferindo ameaças “É assim que vai acontecer com vocês, porque daqui, um dia vocês vão tudo para o presídio”, foi uma das frases ditas.
Segundo relatos dos responsáveis por adolescentes, a rotina de violência dura há meses, com episódios de racismo, “O professor constrangeu ela no meio da aula, falando que ia raspar a cabeça dela se não amarrasse o cabelo”, conta a mãe de uma adolescente de 14 anos que tem os cabelos cacheados. Na escola os meninos são obrigados a manter o corte militar e as meninas a manterem o cabelo preso, brincos e relógios são proibidos.
O que é o Pesac?
O programa Escola Segura, Aluno Cidadão (Pesac) é uma parceiria entre a Secretaria de Educação e a Polícia Militar do estado do Amazonas. Criado em 2018, segundo uma publicação do site oficial da PM o projeto tem como objetivo: “promover a cidadania, meritocracia, espírito de liderança, civismo e a disciplina na rede de Ensino Público no Amazonas, com possível expansão para outros estados do país, através de uma gestão cívico-militar desenvolvida em conjunto com ações preventivas de segurança pública”.
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Em nota, a Secretaria de Educação do Estado do Amazonas disse que ao tomar conhecimento das denúncias dos pais e responsáveis, abriu procedimentos administrativos para apurar a situação relatada. “A Secretaria de Educação reforça que não compactuam com quaisquer atitudes que desrespeitem os direitos individuais dos estudantes e seus familiares e que, em se comprovando qualquer ato fora da legalidade, os responsáveis serão devidamente responsabilizados”, afirma a nota enviada à redação.
O NP entrou em contato com a secretárias de Segurança Pública do estado do Amazonas e com a Polícia Militar do Amazonas, buscando suas versões dos fatos e quais medidas estão sendo tomadas após as acusações feitas, mas até o fim da publicação dessa matéria não obtivemos retorno.