Um novo programa do canal Viva chamado ‘Dois em cena — Encontro de gerações’ com a proposta de unir um ator veterano e um artista mais jovem, vai estrear em agosto. Dentre as duplas confirmadas estão a atriz Léa Garcia, e a atriz Clara Moneke. Frente a Frente, as atrizes compartilham experiências, dificuldades, os papéis mais desafiadores, as lembranças e os sonhos para o futuro.
Em entrevista ao Notícia Preta, Léa Garcia e Clara Moneke comentaram sobre a questão racial principalmente no meio artístico, mas também na vida. As atrizes também falaram sobre suas carreiras, sobre as particularidades e conquistas referentes a cada geração, além da contribuição da arte para a comunidade negra e o poder da consciência racial.
A atriz de 90 anos, que começou no teatro já em um contexto de resistência racial fazendo parte do Teatro Experimental do Negro (TEN) de Abdias do Nascimento, já foi indicada em 1957 ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes, por sua atuação no filme ‘Orfeu Negro’, que já venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Para Léa que deu vida a personagem Rosa na novela ‘Escrava Isaura’ (1976), que foi um fenômeno no Brasil e no mundo, ter começado a carreira dentro de um ambiente de construção de consciência racial foi muito importante não só para a sua carreira, mas também para a sua vida.
“Ali eu já tive um aprendizado, uma conscientização da problemática negra pela sociedade brasileira. Então isso que me deu suporte e me possibilitou viver de uma forma, com mais conhecimento e também sabendo levar a situação de discriminação de uma forma mais amena, pois eu comecei a tomar consciência“, disse Léa.
Sobre esse momento em que vários atores e atrizes negros estão ganhando destaque na televisão, e também o carinho do público, como no caso da atriz Clara Moneke, Lea não esconde sua animação e destaca que essa conquista é fruto de muita luta.
“Todos nós atrizes e atores negros conquistamos esse momento, e isso também se deve a um esclarecimento da sociedade junto a situação. Pois se os não negros também não tivesse nesse momento tomando conhecimento do preconceito, dessa mazela toda que nos envolve enquanto uma sociedade diversificada, isso não estaria acontecendo“, afirma a atriz, que continua:
“Nós agradecemos as políticas publicas, as cotas, as lutas que todos nós tivemos ao longo de todo esse período, não só dentro das artes mas como em qualquer área de trabalho“.
Sobre sua carreira, Léa fala sobre as inseguranças que teve no processo e das “Eu quando fiz ‘Orfeu Negro’, eu me julgava uma grande trágica. E a minha personagem foi a Serafina, que a essência era de humor. E eu chorava dizendo ‘ah eu faço as pessoas rirem e o nosso diretor falava Lea você está mostrando que pode fazer diversas personagens, qualquer interpretação. Você pode ser uma atriz trágica, dramática, cômica então esse personagem só está acrescentando na sua carreira“.
Já a atriz Clara Moneke, que conquistou o país ao dar vida a personagem Kate, da novela global ‘Vai na Fé’, também já participou da série Arcanjo Renegado’, também da Globo, da série ‘Amar é para os fortes’ da Prime Video, além de integrar o elenco de filmes como o longa `Nosso Sonho`, que vai contar a vida da dupla Claudinho & Buchecha.
Sobre a repercussão da sua personagem, Clara não esconde sua felicidade. “Eu me sinto realizada. É muito bom fazer as pessoas enxergarem a Kate com carinho apesar de todos os deslizes e particularidades dela. Eu me sinto muito orgulhosa“.
Em mais de uma ocasião a atriz já falou que sua criação foi construída com a pauta racial bem presente, e que isso a fortaleceu enquanto mulher negra, então Clara comenta como isso também se reflete em seu trabalho. “Contribuiu imensamente para a minha formação enquanto atriz pois ter ter consciência de quem você te faz muito mais presente em qualquer lugar, então eu sempre soube o que eu sou, onde eu queria chegar então a minha família sempre me apoiou. Acho que o apoio também reafirmou muito o que eu queria“, disse.
Mas Clara Moneke, que afirmou reconhecer e agradecer a contribuição da geração da atriz Léa Garcia para a criação de possibilidades, também ressalta o poder que a arte e a educação tem, na luta antirracista e no fortalecimento do povo preto.
“A arte, assim como a educação, são transformadores. Eu acho que não existe a arte sem educação. O texto, uma história, ele te leva como uma aula de história, para qualquer lugar. Então eu acredito que a arte transforma vidas, ela motiva, ela dá sentido, então eu acho que a população preta tem que tomar posse desse lugar que também é nosso e que por muito tempo foi negado. Então a gente precisa estar em todos os locais“, conclui a atriz.
Durante o programa, além da conversa, os atores vão ler, reencenar ou simplesmente reler cenas importantes que fizeram parte da sua trajetória e criar um momento em que a interpretação fala mais alto. Nesse episódio, Léa Garcia e Clara Moneke, junto da apresentadora Marisa Orth, representam um sucesso da televisão brasileira.
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