“Kamala tem pautado a questão racial no debate público”, diz professor sobre discussões nos EUA

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Kamala Harris é a primeira mulher a ser vice-presidente dos Estados Unidos (Elijah Nouvelage/File Photo/Reuters)

O debate público sobre a reforma do ensino de história negra no estado da Flórida – aprovada em julho -, foi protagonizado pela vice-presidente dos EUA Kamala Harris e o governador do estado Ron DeSantis na última semana. O Notícia Preta entrevistou com exclusividade o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Flávio Thales Francisco, que é doutor em história e especialista em história americana, para analisar o caso.

Para ele a vice-presidente é a responsável por pontuar a questão racial nas discussões. “Kamala Harris é uma mulher negra que tem pautado a questão racial no debate público desde o momento em que se apresentou como uma presidenciável nas primárias democratas e, posteriormente, como vice-presidente”, afirma o professor sobre a primeira mulher a ocupar este cargo na história do país.

O especialista também afirma que o conflito entre a vice-presidente e o governador da Flórida está associado à disputa pela presidência que se aproxima, fazendo com que as duas figuras se apresentem como alternativas a Joe Biden e Donald Trump.

“As eleições presidenciais se encaminham para uma revanche entre os dois[Biden e Trump]. Caberia a Harris e DeSantis demonstrarem certa competividade caso se abra a oportunidade de protagonizarem a corrida eleitoral“, disse ele.

Flavio Thales Francisco é doutor em História Social pela USP / Foto retirada do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA).

Ele entende que no momento em que foi revelada a proposta “revisionista para História Negra no currículo do estado da Flórida”, Harris se manifestou e apontou os problemas das narrativas da versão republicana.

Na última sexta-feira (28), Harris fez um discurso criticando o governador da Flórida, e falou sobre sua preocupação que os republicanos tentem “substituir a história por mentiras”.

Recentemente, Kamala Harris também se manifestou em seu Twitter e disse que estão insultando a população negra, em resposta ao governador da Flórida DeSantis. Segundo ela, com a reforma os alunos “aprenderão que as pessoas escravizadas se beneficiaram da escravidão”.

Para o professor da UFABC, a estratégia principal do governador da Flórida é mobilizar a base de extremistas e se apresentar como uma figura viável para os eleitores republicanos que elegeram Donald Trump.

“Ele aproveitou uma onda de crítica dos conservadores a projetos curriculares que afirmavam compromisso com o antirracismo e a diversidade. A interpretação é de que currículos não estavam preocupados em incluir minorias raciais, mas constranger as crianças brancas. Atacar a História Negra, por exemplo, é uma forma do DeSantis demonstrar ao eleitorado branco conservador que ele é sensível aos valores desse publico e que pretende preservar uma ordem que tem sido desestabilizada por liberais e esquerdistas que apoiam a diversidade racial, os grupos LGBTs e agendas feministas,” disse Flavio.

O entendimento do professor é que a narrativa alternativa sugerida pelo conselho estadual “é racista e visa atenuar os impactos da escravidão na história do país”. Para ele é uma maneira de despolitizar a questão racial no país.

“Esse ataque dos conservadores e extremistas aos currículos tem sido discutido por vários intelectuais negros, mas quando a crítica é feita por uma autoridade como a Kamala Harris ela ganha uma dimensão muito maior”.

Na observação de Flavio, se a vice-presidente Harris for bem-sucedida, ela tem a capacidade de acabar com a estratégia de construir uma versão alternativa da história da escravidão, e fazer com que isso seja desfavorável ao governador da Flórida.

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