Em quatro episódios, o telejornal mostra histórias do povo negro que foram apagadas na grande São Paulo
O jornal ‘SP2’ exibe a partir deste sábado (11), a segunda temporada da série ‘Memórias Negras’, que fala sobre a presença negra na história de São Paulo, que ao longo do tempo, foi apagada. A repórter Mariana Aldano, que vai percorrer regiões da grande São Paulo para mostrar essa vivência, ao público, fala da importância de apresentar na televisão.
“Poder ‘furar a bolha’ e falar sobre esse tema na TV aberta é um grande ganho para a sociedade. A história do povo negro não diz respeito ao povo negro, diz respeito à história do Brasil, à história de todos nós”, diz a jornalista.
Ela também acredita que dessa forma, o assunto é mais debatido e por isso, aproxima mais o público. “O conhecimento traz pertencimento e acredito que pode trazer união em uma sociedade que tem desafios a serem superados na questão racial”.
A primeira das quatro reportagens da série, que será exibida em sequência aos sábados no telejornal, mostra o desafio de historiadores para remontar a trajetória de heroínas negras do passado. A falta de registros históricos, pinturas e imagens pela cidade, é um dos motivos.
Uma das descobertas da matéria é sobre quem foi Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama, abolicionista enterrado no Cemitério da Consolação. Luiza virou nome de praça na Freguesia do Ó, na década de 1980. A equipe também conversou com uma jovem ilustradora que se dedica exclusivamente a ilustrações de pessoas pretas. Ela afirma que, se depender dela, nenhuma heroína da atualidade ficará sem rosto.
A primeira temporada foi exibida em abril deste ano. “A nova temporada vai ter surpresa, emoção, alegria, indignação e esperança. O público também pode esperar o mesmo trabalho gráfico primoroso da primeira temporada, que é fundamental no processo de montar essa história com poucos recursos de imagem em um formato televisivo”, diz Mariana que também explica a principal diferença entre as duas temporadas.
“A principal diferença dessa temporada é que a gente expandiu a série do Centro para as bordas da cidade e para a Região Metropolitana. Fomos atrás da história negra fora da cidade de São Paulo”.
No segundo episódio, a equipe do ‘SP2’ vai ao bairro da Jabaquara conhecer a rota de escravizados, um quilombo de passagem, que era a última parada no caminho até a cidade de Santos, onde ficava o Quilombo de Jabaquara. O lugar, conhecido como Sítio da Ressaca, fica no mesmo complexo onde foi inaugurado um centro de culturas negras.
Já a terceira reportagem vai falar da forte presença da população negra na formação na Zona Leste da capital, no bairro da Penha com a Irmandade dos Homens Pretos, criada na segunda metade do século XVIII, e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos são os marcos mais conhecidos desse passado. O episódio também vai falar sobre a importância histórica das mulheres negras que ajudaram a formar esse bairro.
Na última reportagem da série, o telejornal vai mostrar que Santana de Parnaíba, na Região Metropolitana, abrigou um quilombo no pós-abolição chamado de Cururuquara, que até hoje, há descendentes diretos de pessoas escravizadas no território.
Mariana também diz a proposta da série é falar sobre heroínas negras, e como eles atuaram na história, que nem todos conhecem. “Por causa do apagamento, muitas vezes o que resta para preencher as lacunas é a imaginação”, afirma.
Para Mariana, fazer parte da série foi muito especial. “Ao gravar essa série junto com o repórter cinematográfico Júlio César, também um homem negro, eu me emociono em cada local ao imaginar como teria sido bom saber de onde exatamente venho, o que os meus antepassados passaram como escravizados, de onde vieram, por onde passaram”, diz ela que também afirma que essa oportunidade, apesar de bastante forte, também representa novas oportunidades.
“Ao mesmo tempo, poder contar essa história traz esperança de que haja uma conscientização sobre a importância de se descobrir, preservar e valorizar a história preta, que é uma história de todos nós”.